De Heleno, Villas Bôas a Pazuello: que tipo de militar o CMA forma?

Na principal vitrine a que foram colocados, os três integrantes da elite do Exército não hesitaram em atacar valores reprovados na democracia

CMA

Neuton Corrêa, da Redação do BNC Amazonas

Publicado em: 26/05/2021 às 04:00 | Atualizado em: 26/05/2021 às 10:31

Figuras de cargos importantes no governo do capitão aposentado Jair Bolsonaro, os generais Augusto Heleno, Eduardo Villas Bôas e Eduardo Pazuello colocam em questão o tipo de pensamento que domina a formação de praças e oficiais que passam pelo Comando Militar da Amazônia (CMA).

Na principal vitrine a que foram colocados na República, os três integrantes da elite do Exército não hesitaram em atacar valores reprovados na democracia.

Heleno, por exemplo, o mais antigo dos três, que comandou o CMA de 14 de setembro de 2007 a 6 de abril de 2009, recomendou em fevereiro de 2020 que o governo desse um “foda-se” ao Congresso.

“É uma pena que o ministro com tantos títulos tenha se transformado num radical ideológico contra a democracia, contra o parlamento. Muito triste”, lamentou na ocasião o então presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Bem antes disso, em 2018, Villas Bôas, comandante do CMA de 1º de setembro de 2011 a 20 de setembro de 2014, atirou uma velada ameaça ao Supremo tribunal Federal (STF). Escreveu em seu Twitter:

“Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do país e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?”.

E prosseguiu:

“Asseguro à nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais”.

A pressão de Villas Bôas ao Judiciário ocorrera às vésperas do julgamento da prisão do ex-presidente da República Lula da Silva (PT).

A polêmica rendeu até este ano, quando o ministro do STF Gilmar Mendes declarou: “Ditadura nunca mais”.

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Pazuello e mortes nas costas

Já Pazuello, deixou o comando da 12ª Região Militar, subordinada ao CMA, em abril do ano passado para se tornar ministro da Saúde um mês depois.

Este, diretamente, não desafiou nenhum poder da República. Todavia, violou valores e princípios respeitados em qualquer ambiente da sociedade.

Pazuello, como resultado, ficará para a história do Brasil como o ministro da Saúde que mais contou mortos na pandemia da covid (coronavírus). E não foram dezenas, nem centenas.

O general vendido ao país por Bolsonaro como “o cara da logística”, assumiu o ministério em 16 de março deste ano. Nessa data, o Brasil acumulava 233 mil casos e 15.633 mortes pela covid.

No dia 15 de maio, substituído a contragosto do chefe, o número de casos passava de 11,5 milhões. E o de mortes, na casa de 280 mil.

Contudo, pior do que isso foi o cinismo expressado pelo general. Perguntado na CPI da covid sobre a que atribuía sua demissão, respondeu: “Missão cumprida”.

Pazuello rasgava assim, diante de todo o país e da tropa, o ideal do combatente perfeito. O mesmo que é buscado por exércitos do mundo inteiro.

Além de se revelar um “campeão de mentiras”, como o tachou o relator da CPI, o general do serviço ativo da honrada farda verde-oliva, desdenhou das mais de 450 mil vidas perdidas no país mau governador.

Além da subserviência

Dessa maneira, e com essa desfaçatez, repetiu no Rio de Janeiro o desrespeito que mostrou em Manaus, infringindo regras sanitárias ao circular sem máscara em shopping.

Em terras fluminenses foi mais grave, porque participou de aglomeração promovida “pelo que manda”. Usurpou, assim, do bom senso da sociedade em ato político que exibiu toda sua subserviência, fazendo gracejos ao lado de Bolsonaro, também sem máscara, em ato político.

Subserviente e mentiroso. Estes são adjetivos que Pazuello leva para a inatividade logo-logo, e que vão macular seu currículo.

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CMA, atalaia da Amazônia

E não apenas o dele, mas também a história do Exército Brasileiro, e, sobretudo, a história do Comando Militar da Amazônia, o CMA, organização respeitada e querida pelos amazonenses.

Ele é o maior comando militar do Brasil, com mais de 20 mil homens prontos para a defesa da Amazônia.

Logo, vê-se o custo e a energia que o país tem lhe dedicado há décadas.

Dessa forma, não se pode concordar que, pagos pela União, esses militares estejam conspirando contra a democracia e seu povo.

Passada a ditadura de duas décadas, o que existe hoje é uma relação perfeita de amizade e apreço entre as forças militares e o povo brasileiro. Certamente, atitudes de uns poucos não vão estragá-la.

O brasileiro, em suma, tem total confiança nas Forças Armadas como garantidoras da ordem, da soberania e do progresso do Brasil.

Fotomontagem: BNC Amazonas