Diário de uma quarentena | 19º dia, 8 de abril – Unha salvadora
Hoje é quarta-feira. São 19h36.
A contaminação se acelera a cada dia no Estado.
De ontem para hoje, foram mais 168 novos casos confirmados do coronavírus.
Agora, o Amazonas conta 804 infectados e 30 mortos.
A doença derrubou hoje o secretário de Estado da Saúde.
O governador substituiu Rodrigo Tobias por Simone Papaiz, que veio de São Paulo.
Um militar do Exército morreu, um tenente-coronel.
Ele servia em São Gabriel da Cachoeira (AM), onde eu servi também.
Olhar para o mundo
Em todo o mundo, o vírus já alcançou mais de 1,5 milhão de pessoas e matou mais de 88 mil.
Os EUA têm mais de 429 mil pessoas infectadas e, nessa guerra, onde o campo de batalha é também o território norte-americano, até aqui, 14.695 cidadãos daquele país morreram.
Olhar para a família
De Parintins, meu irmão Fernando liga para dizer que está apavorado.
Não é para menos, lá a Covid-19 matou mais uma pessoa.
Meus pais continuam na zona rural.
Amigo doente
São 20h45.
Recebo a ligação do Petro Velho, que me avisa:
“Nosso amigo (não posso ainda falar o nome dele) adoeceu; está com febre e acabou de desmaiar. Chamaram a ambulância”.
Unha pra que te quero
Hoje precisei ir a um caixa eletrônico.
Percorri três locais para encontrar um sem fila.
Não é agorafobia, não.
Ops, preciso explicar. Essa palavra nova (agorafobia) encontrei no Google. Pessoa que desenvolve um transtorno e teme várias situações, inclusive enfrentar filas.
Acho que uma das heranças que a pandemia deixará em muita gente será esse transtorno.
Pois bem, mesmo que eu tivesse decidido encarar aquele caixa eletrônico, uma coisa me inquietava.
Como tocar naquela máquina, onde centenas de pessoas passam por ali?
Estava municiado com meu álcool gel e meia barra de sabão cotia, que passou a ser minha companhia nas últimas semanas.
A estratégia estava preparada: não usar cartão; usar apenas a biometria.
Mas, na hora, cara a cara com a máquina, tive ideia de usar um instrumento qualquer para apertar as teclas.
Lembrei-me de usar apenas a ponta de um dedo e seguir adiante.
Mas, quando estava para tocar a pontinha do dedo no caixa, observei que uma das minhas unhas estava maior que as outras.
Nessa hora, não contei conversa: fui direto na opção “Transações sem cartão”.
Deu certo.
Mas a máquina me pedia para colocar a mão no leitor biométrico.
Aí, eu já não me entendia mais com ela, no que respondi “nem morto”. E fiz um teste.
Eu vou revelar pra vocês. Sem tocar no aparelho deixei a mão parar no leitor e no ato ele reconheceu minha mão.
Pronto! Digitei o valor, saquei o dinheiro e fui correndo para uma torneirinha da loja.
Saí de lá rindo e quando cheguei em casa passei o dinheiro com ferro de passar roupa.
Preocupação
São 21h48.
Continuo acompanhando, preocupado, as informações do meu amigo.
Espero que ele fique bem.
O cunhado dele está com a doença e a família assinou hoje documentos sobre o uso de medicamentos que ainda estão sendo pesquisados.
* O autor é jornalista e diretor-presidente do BNC Amazonas
Arte: Alex Fideles