“Esse filme de São Paulo eu chorei em Manaus há dois meses”
Em 27 de dezembro, o hospital Santa Júlia havia anunciado ter atingido 100% de sua capacidade de atendimento para pacientes com a doença

Neuton Corrêa, da Redação do BNC Amazonas
Publicado em: 25/02/2021 às 21:58 | Atualizado em: 27/02/2021 às 19:13
Antes de entrar em colapso no dia 14 de janeiro por causa da segunda onda da covid-19 (coronavírus), o primeiro sinal recebido pelo sistema de saúde de Manaus saiu de um hospital particular.
Isso aconteceu no dia 27 de dezembro.
Foi quando o Santa Júlia havia anunciado ter atingido 100% de sua capacidade de atendimento para pacientes com a doença.
Paralelamente a isso, o Governo do Amazonas enfrentava resistência às medidas para tentar conter a circulação e a aglomeração de pessoas e, assim, baixar a taxa de transmissão do vírus. Àquela altura ainda era fato desconhecido do público.
Com efeito cascata, outros hospitais privados também anunciariam nos dias seguintes colapso em seus serviços.
São Paulo
Quase dois meses depois, o curso desse trágico acontecimento, que para muitos ainda parece ficção, roteiro de filme surreal, começa a se repetir em São Paulo, o estado mais afortunado da federação.
Não só por isso, o fato de ser o estado mais rico do país, o segundo capítulo deste novo drama seria ainda mais surreal.
Mas, ao que tudo indica, é exatamente que está se desenhando.
A distância de tempo (dois meses), o espaço entre Manaus e São Paulo (2,6 mil quilômetros) e as estruturas físicas e financeiras foram suficientes para criar uma previsibilidade e evitar que um novo campo de drama humano se instaure no Brasil.
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Colapso na ocupação de UTI
Pois, nesta quinta-feira, dia 25, os hospitais privados paulistas, onde grande do PIB nacional busca socorro, anunciam mais de 90% de taxas de ocupação em seus leitos de UTI.
“No Hospital Israelita Albert Einstein, a taxa total de ocupação é de 99% nesta quinta-feira, 25 e, no Sírio-Libanês, é de 96%. No Hospital Alemão Oswaldo Cruz, a taxa de ocupação de UTI para covid está em 91%. Na Beneficência Portuguesa, a taxa de ocupação dos leitos de internação para infectados pelo vírus estava em 94% na quarta-feira, 24, e era 95,74% nas UTI. Na quinta, a taxa de ocupação nos leitos de UTI e enfermaria dedicados à doença no HCor é de 85% e a ocupação total, 86%”, noticia o site do Estadão na tarde desta quinta.
A considerar o que aconteceu no Amazonas, o próximo colapso poderá acontecer na rede pública de saúde paulista.
Ao que tudo indica, Manaus pode ter pago um preço muito alto por uma lição que o resto do país não aprendeu. Ou, o que aconteceu na capital amazonense neste começo de 2021 é algo impossível de enfrentar.
Foto: Ingrid Anne/Fotos Públicas