O empresário bolsonarista Luciano Hang, dono das lojas Havan, negou à CPI da covid nesta quarta-feira (29) qualquer participação para viabilizar o TrateCov. Esse foi o aplicativo que chegou a Manaus indicando o uso de hidroxicloroquina e outros medicamentos sem eficácia contra o coronavírus.
No início de janeiro deste ano, quando a capital do Amazonas vivia um momento grave da epidemia e já sofria com a falta de oxigênio na rede hospitalar, profissionais do Ministério da Saúde chegaram à cidade com o novo instrumento.
O TrateCov, que ficou pronto com urgência, foi o principal foco da ação da pasta no Amazonas. Além da hidroxicloroquina, o aplicativo receitava ivermectina e azitromicina de forma indiscriminada a pacientes.
Hoje, o relator do colegiado, Renan Calheiros (MDB-AL), questionou sobre a participação do empresário no aplicativo. “Zero”, respondeu o bolsonarista.
“Então, uma outra pergunta, consequência da resposta. Teve acesso ao aplicativo TratCov antes mesmo do seu lançamento?”, questionou Calheiros.
“Não. Zero, zero. Eu só fiquei sabendo do TrateCov através delas, como elas explicaram aí das pessoas que estavam por trás disso, que era uma pontuação, de que chegaria a conclusões rápidas de se a pessoa estava ou não com covid”, respondeu com base no vídeo mostrado na CPI.
Hang fez referência as médicas Helen Brandão e Luciana Cruz, do hospital Sancta Maggiore, da Prevent Senior em São Paulo, onde sua mãe estava internada com covid-19.
As duas, segundo ele, foram quem lhe apresentaram o aplicativo. Ocorre que o vídeo dele é do dia 9 de janeiro deste ano, sendo que a apresentação em Manaus, que contou com a presença de Helen Brandão, foi feita no dia 13. Ou seja, o empresário mentiu ao relator da CPI.
“Se eu tenho uma rede social, vou entrevistar pessoas que acho que possam ajudar”, disse.
Missão
O relator ainda insistiu na mesma linha. “Quais são as suas relações, senhor Luciano Hang, com a Missão Manaus, de médicos que levaram tratamento precoce para a população amazonense?”, apertou.
“Nada, nada, nada”, respondeu.
A CPI está fazendo conexão da Prevent Senior com a tentativa de usar os amazonenses como cobaias por meio do aplicativo TrateCov.
A empresa é acusada de usar seus próprios pacientes como cobaias receitando hidroxicloroquina, medicamento sem eficácia contra o vírus, e de pressionar médicos a prescrever o “kit covid”.
A secretária de Gestão do Trabalho do ministério, Mayara Pinheiro, conhecida como “Capitã Cloroquina”, responsável em propagar o TrateCov na capital amazonense, apresentou uma nota informativa da pasta citando o uso da hidroxicloroquina pela Prevent como um caso de sucesso.
O estudo em questão foi assinado pelos médicos da empresa Daniella Cabral de Freitas, Henrique Godoy e Sérgio Antônio Dias da Silveira. Ele serviu como base para o ministério indicar o aplicativo para receitar os medicamentos sem eficácia no Amazonas.
Foto: Agência Senado