Iram Alfaia , do BNC Amazonas em Brasília
Após publicar matéria sobre a trajetória empresarial do clã Pazuello no Amazonas, o site de Olho nos Ruralistas destacou também a acusação da participação de Alberto Pazuello, irmão do ministro da Saúde , Eduardo Pazuello, no grupo de extermínio “A Firma” que atuou em Manaus na década de 1990.
Prestes a deixar o cargo, o general Pazuello e o irmão mais velho, Alberto, são sócios em três empresas, sendo uma delas a J. A. Leite Navegação, com longa trajetória nos rios do Amazonas.
“Nos anos 70, quando o ministro da Saúde ainda era adolescente, ambos eram sócios em uma financiadora no Rio, a S. B. Sabbá, ligada a outro clã amazonense”, afirmou o site.
Com bases nos acervos dos jornais Estadão e Folha de S.Paulo, o de Olho nos Ruralistas levantou dois episódios envolvendo o irmão do ministro em crimes.
Nos dois casos, a grafia do sobrenome dele aparece só com um “l”, mas se trata mesmo do irmão do ministro.
Numa reportagem do Estadão, no dia 30 de maio de 1996, a repórter Kátia Brasil abriu a matéria “Empresário é preso por estupro e tortura” da seguinte forma:
“Sexo, drogas e videoteipe. Assim vivia o empresário Alberto Pazzuelo, 42 anos, em sua residência, numa área nobre de Manaus, com adolescentes mantidas em cárcere privado. Elas eram atraídas com anúncios em jornal oferecendo R$ 350 para copeiras e domésticas.”
Flagrante
Segundo a reportagem, Alberto foi preso em flagrante. Ele estava com as adolescentes J.F.C., de 14 anos, e J.L.F.C., de 17 anos.
A vítima mais velha estava beijando os pés do empresário quando a polícia entrou, conforme o relato da delegada.
“Com ele, foram apreendidas uma escopeta, pistola automática, cocaína em pó e pasta, maconha, uma filmadora e fitas com cenas de sexo das garotas.”
O empresário foi preso sob a acusação de porte de drogas e de armas, estupro, atentado violento ao pudor e cárcere privado.
O flagrante só foi possível porque uma adolescente de 14 anos fugiu um dia antes e denunciou o empresário.
No ano anterior, Alberto já havia sido acusado de manter em cárcere privado uma adolescente de 17 anos.
“O empresário a deixou cinco dias com os braços amarrados ao exaustor da sauna da casa. A mão direita da jovem teve de ser amputada.”
“A Firma”
Em 4 de junho do mesmo ano, dias após a reportagem do Estadão, a Folha de S.Paulo publicou a matéria “Testemunha liga empresário a grupo de extermínio do AM“, de autoria do repórter André Muggiati;
“Uma testemunha relacionou o empresário Alberto Pazzuelo, preso desde o último dia 28, a um grupo de extermínio que, segundo ela, atua em Manaus (AM). A testemunha, cujo nome vem sendo mantido em sigilo, depôs na semana passada na polícia e no Ministério Público”, diz a reportagem.
De acordo com a reportagem, tratava-se de uma ex-empregada, que trabalhou na casa de Pazzuello por três meses. “Ela identificou oito policiais como integrantes do grupo, autointitulado A Firma.”
O site entrevistou o promotor aposentado Carlos Cruz que teve papel central nas investigações contra o grupo.
“Foi um caso muito difícil, a gente recebia muitas ameaças e teve até ciladas (…) O ativista de direitos humanos argentino Adolfo Pérez Esquivel, Nobel da Paz em 1980, esteve em Manaus e aproveitou para se reunir comigo para falar sobre o assunto”, recordou.
Na ocasião, também estevem em Manaus integrantes da Comissão dos Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.
Solto por desembargador
O presidente do colegiado era o então deputado federal Hélio Bicudo (PT-SP), falecido em 2018, que havia se destacado nos anos 70 como promotor de Justiça no combate ao esquadrão da morte de São Paulo.
Por decisão de um desembargador do Tribunal de Justiça do Amazonas, o empresário foi solto e ficou foragido por dez meses. Graças a uma denúncia anônima, ele voltou a ser preso e alegou inocência.
Pelo levantamento do site, ele responde hoje a um processo no 2º Tribunal do Júri de Manaus por homicídio sem nenhum desfecho nos últimos 25 anos.
O De Olho nos Ruralistas entrou em contato com o ministro e o irmão, mas não obteve respostas.
Foto: reprodução/blog Mário Adolfo