Juiz ameaça interromper abertura de 400 leitos no combate ao coronavírus

Magistrado sugere contratar hospital da Beneficente Portuguesa, que demonstrou nĂ£o possuir equipamentos indispensĂ¡veis para o tratamento da doença

Da RedaĂ§Ă£o do BNC AMAZONAS

Publicado em: 16/04/2020 Ă s 06:53 | Atualizado em: 16/04/2020 Ă s 07:36

Em meio Ă  crise mundial de saĂºde por causa da pandemia do novo coronavĂ­rus (Covid-19), o juiz Cezar Luiz Bandiera suspendeu o contrato que o Estado firmou para abrir 400 novos leitos no Hospital Nilton Lins, em Manaus.

A decisĂ£o saiu na noite de ontem, por volta das 21h.

Na prĂ¡tica, o magistrado interrompe o plano do Estado de combate Ă  pandemia. Isso porque a abertura dos novos leitos tem como objetivo aumentar a assistĂªncia Ă  populaĂ§Ă£o de todo Amazonas.

O juiz Bandiera, da 5ª Vara da Fazenda PĂºblica, concordou com aĂ§Ă£o popular, que sustenta ‘’elevado valor do contrato’’: R$ 2,6 milhões por trĂªs meses, ou R$ 866 mil por mĂªs.

O Hospital Nilton Lins é um prédio projetado para ser hospital, com capacidade para abrigar 400 leitos, clínicos e de UTI, onde funcionou o hospital da Unimed, com todos sistemas, por exemplo, de gases instalados e funcionando.

 

ComparaĂ§Ă£o

Mas, para efeito de comparaĂ§Ă£o, o Governo do Rio de Janeiro anunciou na segunda-feira, 13, que a cidade carioca receberĂ¡ dois novos hospitais de campanha, portanto com estruturas adaptadas para funcionar como hospital, ao custo de R$ 95 milhões.

As duas estruturas, juntas, terĂ£o 200 leitos, ou seja, metade da capacidade do Hospital Nilton Lins, cujo aluguel de toda sua estrutura Ă© de R$ 866 mil por mĂªs para o Estado instalar as UTIs e leitos clĂ­nicos.

 

Ameaça à vida

A decisĂ£o do juiz, que vai tambĂ©m contra manifestações do STF no sentido de apoiar decisões de governadores e prefeitos no enfrentamento Ă  pandemia, coloca vidas em risco.

Ao aceitar a aĂ§Ă£o popular, assinada por Eduardo Humberto Deneriaz Bessa, o juiz Bandiera sustenta que o Estado deveria usar o valor do aluguel para abrir mais leitos no Hospital Delphina Aziz, unidade referĂªncia no combate ao coronavĂ­rus, que deveria investir na Beneficente Portuguesa ou nos hospitais particulares.

Mas a beneficente portuguesa demonstrou incapacidade técnica, conforme revela documento a que o BNC AMAZONAS teve acesso ontem.

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Diferente da manifestaĂ§Ă£o do juiz, o Estado mostra-se trabalhando em frentes diversas para atender a populaĂ§Ă£o e enfrentar a pandemia.

 

Com o governo federal

Com o MinistĂ©rio da SaĂºde, firmou convĂªnio de R$ 15 milhões por mĂªs para abrir mais leitos no Delphina Aziz. A Beneficente Portuguesa tem 15 leitos que podem ser transformados em UTI.

JĂ¡ a rede particular foi a primeira a ser estrangulada com a pandemia e nĂ£o consegue dar assistĂªncia aos prĂ³prios clientes de plano de saĂºde.

AlĂ©m disso, o Governo do Amazonas anunciou a convocaĂ§Ă£o imediata de 517 profissionais de saĂºde aprovados no concurso dos Bombeiros de 2009 e que no atual Governo foram chamados para o curso de formaĂ§Ă£o.

O Governo tambĂ©m lançou nos Ăºltimos dias a contrataĂ§Ă£o temporĂ¡ria, com seleĂ§Ă£o nesta quinta e sexta-feira, dias 16 e 17/04, de 704 tĂ©cnicos de enfermagem para reforçar o combate ao coronavĂ­rus na rede estadual.

No atual nĂ­vel de contaminaĂ§Ă£o do vĂ­rus no Amazonas, a decisĂ£o judicial de ontem Ă  noite poderĂ¡ ser um feio na corrida contra o tempo para tentar socorrer a populaĂ§Ă£o da doença.

 

Foto: Raphael Alves/TJ-AM, em 29 junho de 2016