Manaus pode sofrer algo pior do que 3ª onda de covid, diz pesquisador

Para evitar uma situação crítica, Jesem Orellana defende revisão urgente pelo governo do Amazonas do plano de retomada de atividades não essenciais

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Aguinaldo Rodrigues

Publicado em: 01/04/2021 às 16:21 | Atualizado em: 01/04/2021 às 16:21

Iram Alfaia, do BNC Amazonas em Brasília

O governador Wilson Lima (PSC) demonstrou preocupação, por meio de live, com possível surgimento da terceira onda do coronavírus (covid-19) no Amazonas, a exemplo do que ocorreu em países como Alemanha e França. 

Para o pesquisador da Fiocruz/Amazônia Jesem Orellana, Manaus e Boa Vista (RR) podem passar por algo ainda pior do que a terceira onda. 

Com base nos dados que apontam uma forte interrupção na queda da incidência de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em Manaus, o pesquisador diz que a maior preocupação na cidade é a retomada do aumento do número de casos ainda na segunda onda.  

“Manaus já está quase lá”, previu Orellana, para quem a flexibilização das medidas restritivas, em fevereiro passado, contribuiu com esse quadro. 

Na sua avaliação, após a estabilidade, há um indicativo de que no estado haverá retomada do crescimento no número de casos. 

“O que seria ainda pior do que a terceira onda, pois sequer teremos saído da segunda onda, diferente de 2020. Em resumo, a resposta sanitária de 2021 parece ainda pior do que a de 2020 e, portanto, ainda mais desprovida do princípio da precaução”, explicou ao BNC

Quanto ao temor de uma possível terceira onda, o pesquisador foi taxativo: “Sim (provável). E não deveríamos ter dúvidas disso.” 

Para evitar uma situação crítica, Orellana defendeu revisão urgente pelo governo estadual do plano de retomada de atividades não essenciais. 

Disse ainda que são necessárias medidas mais duras como punição para quem deixar de usar máscara (público e no trabalho) ou desrespeitar as regras sanitárias dentro de estabelecimentos diversos, especialmente os ligados à atividade comercial.

Laboratório a céu aberto 

Com o Brasil superando a marca dos 4 mil mortos diários, sendo março o pior mês (66 mil óbitos) da pandemia, o cientista diz que a situação do Amazonas serve como laboratório a céu aberto para o restante do país. 

“Uma espécie de laboratório a céu aberto que segue insistindo em erros semelhantes aos de 2020, como, por exemplo, falta de estrutura de UTI no interior e de capacidade para a realização de diagnósticos por RT-PCR nesses municípios”, disse. 

Para ele, a experiência de 2021 tem ao menos três agravantes: “a retomada rápida e precoce das atividades não essenciais, com altas taxas de transmissão comunitária e hospitais com centenas de pacientes internados em Manaus; a circulação de novas e ameaçadoras variantes; e um processo de vacinação contra a Covid-19 lento, devido ao baixo número de doses para vacinar toda a população maior de 17 anos.”

Foto: Carlos Soares/SSP-AM