‘Meia volta, volver’ de Bolsonaro sobre o IPI foi ordem da bancada
Presidente teve que ceder a articulações feitas por Braga e Omar, que na semana passada chamou-os de medíocres

Neuton Correa, neuton Corrêa BNC Amazonas
Publicado em: 10/03/2022 às 07:12 | Atualizado em: 10/03/2022 às 14:43
O presidente Jair Bolsonaro (PL) não tinha mais o que fazer sobre a redução do IPI, que feria de morte a Zona Franca de Manaus (ZFM). Seu caminho era o recuo.
Do Amazonas, ele recebia pressão de todos os lados, inclusive de aliados. Até pesquisa publicada esta semana mostrava que ele já está perdendo território para Lula, em Manaus.
Mas, um fator externo pesou no meia volta, volver do capitão, ontem (9). Os efeitos da invasão da Rússia à Ucrânia foram determinantes.
Parece nada a ver, mas tem tudo a ver. E foi esse o trunfo usado pela bancada federal do Amazonas para dar o xeque-mate em Bolsonaro.
Explico.
A guerra no leste europeu fez disparar o preço do petróleo no mundo. Para tentar conter a alta, todos os países estão implementando medidas. Os EUA, por exemplo, até conversar com a Venezuela conversaram.
O Brasil, por sua vez, está tomando medidas que precisam ser votadas no Congresso. Há dois projetos para serem votados no Senado, hoje (10).
Um deles é o projeto de lei 1.472/2021, que cria um fundo de estabilização dos preços de combustíveis, e o projeto de lei complementar 11/2020, que estabelece valor fixo para cobrança do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre combustíveis.
Foi aqui que entrou a bancada federal do Amazonas.
Se os EUA dialogaram com a inimiga Venezuela, porque Bolsonaro não haveria de conversar com os senadores amazonenses Eduardo Braga (MDB) e Omar Aziz (PSD), os quais chamou de medíocres na semana passada.
Pois o presidente teve que conversar com a mediocridade, e foi obrigado a executar, ontem, o comando deles de última forma ou “meia-volta, volver”, como se faz na caserna.
É porque os dois senadores disseram-lhe, com a cartão que tinham nas mãos: ou ajusta o IPI, que mata a ZFM, ou nós matamos agora o seu governo.
Como isso seria possível?
Braga e Aziz lideram as duas maiores bancadas do Senado, onde os dois projetos vitais para Bolsonaro serão votados hoje, 10.
Ao todo, eles comandam 27 parlamentares, isso representa 1/3 da casa.
Recado dado
O recado foi dado ao ministro Paulo Guedes, da Economia. Trata-se daquele que tramou o ataque contra a ZFM: ou recua no IPI ou MDB e PSD não votam.
O acordo foi fechado no Senado, mas ainda precisava da Câmara.
E mais uma vez o governo teve que conversar com um inimigo, com a vênia do presidente da casa, Arthur Lira.
Isso porque ficou certo para hoje que, como Bolsonaro já cumpriu com sua parte, prometendo proteger a ZFM em novo decreto, os senadores colocarão seus partidos em campo para votação.
Ato contínuo, à tarde, será a vez do Planalto se render ao deputado federal Marcelo Ramos (PSD), vice-presidente da Câmara.
É que será ele que comandará a votação dos dois textos na casa.
Com o acordo de paz celebrado, Ramos se comprometeu em não deixar Brasília e ficar para presidir a sessão que finalizará o processo legislativo das novas regras.
Assim sendo, vê-se que Bolsonaro, pressionado pelo Amazonas, não teria outra escolha a não ser conversar com os medíocres.
Alias, foram os medíocres que, além do meia-volta, volver!, ordenaram também um “frente para a retaguarda”.
Se Bolsonaro guardou alguma coisa do que o Exército quis lhe ensinar, saberá do que estou falando.
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil