Movimento indígena é alvo de ciúmes e disputa na equipe de transição
O coordenador do setorial nacional de assuntos indígenas do PT questiona presença do presidente da Foirn, Marivelton Baré (Rede) no GT dos Povos Originários

Antônio Paulo, do BNC Amazonas em Brasília
Publicado em: 22/11/2022 às 19:10 | Atualizado em: 23/11/2022 às 15:36
A forte presença do movimento indígena na equipe de transição do governo Lula está causando disputa política entre os aliados e muito ciúme.
Após a reclamação formal da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), que criticou a ausência da entidade nos grupos de transição, agora, é o próprio Partidos dos Trabalhadores (PT) quem se insurge.
O coordenador do setorial nacional de assuntos indígenas do PT, Romeu Vasconcelos Tariano, soltou uma nota, nas redes sociais, criticando a escolha do líder indígena do Rio Negro, Marivelton Barroso.
Diretor-presidente da Foirn (Federação dos Povos Indígenas do Rio Negro) e membro da Rede Sustentabilidade, Marivelton, do povo Baré, é um dos nove nomes do Amazonas a compor a equipe de transição.
No entanto, Romeu Vasconcelos diz que os critérios para a escolha dos nomes não levaram em consideração as populações indígenas e suas representações políticas no Partido dos Trabalhadores.
“Fomos totalmente ignorados pela equipe de transição que nomeou para participar do GT dos Povos Originários o senhor Marivelton Baré que, embora seja da região, não apoia o Partido dos Trabalhadores e sequer fez campanha para a eleição do presidente Lula”, afirma Romeu Vasconcelos.
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Extrema direita
Segundo o dirigente petista, Marivelton e sua cúpula passaram quase quatro anos dizendo “amém” ao governo de Bolsonaro e ainda acusa o diretor da Foirn de ser apoiador da extrema direita.
“Por isso, venho a público esclarecer que como coordenador do setorial de assuntos indígenas do Partido dos Trabalhadores não me consultaram, não indiquei e não sou de forma alguma partícipe ou conivente da infeliz escolha de Marivelton Baré para o GT de transição dos Povos Originários”, conclui.

Curubão é raiz
Na avaliação de Romeu Vasconcelos o prefeito de São Gabriel da Cachoeira, Clóvis Saldanha (Curubão) é o único indígena capaz de representar os povos originários de São Gabriel da Cachoeira na equipe de transição do governo Lula.
Isto porque Curubão é um “petista-raiz”, indígena, (etnia tariana) e que seu trabalho teve aprovação da população, já que se elegeu em 2016 e reeleito em 2020.
Divergência interna
Mas, parece que a crítica de Vasconcelos ao nome de Marivelton Baré não tem a mesma sintonia com os outros membros do setorial indígena do PT.
A líder indígena Quenes Gonzaga Vilanova Payayá, que participa do grupo político, diz que a posição de Romeu Vasconcelos, é individual.
Segundo ela, a rejeição ao nome do presidente da Foirn não teve discussão e muito menos legitimação pelos demais integrantes das seis instâncias estaduais que integram o Setorial Nacional de Assuntos Indígenas do PT.
“Somos solidários e reconhecedores do importante trabalho que o líder Marivelton Baré faz junto aos povos indígenas da Amazônia e do Brasil”, afirma Quenes Payayá.
Porta-voz legítimo
Em nota, a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), que representa 23 povos indígenas e 750 comunidades nos municípios de Barcelos, Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, destaca o papel de Marivelton Baré e sua trajetória.
“Marivelton Baré é liderança, representante e porta voz legítimo do movimento indígena do Rio Negro, integrante da Rede Sustentabilidade, em defesa dos direitos coletivos e socioambiental dos territórios e oposição ao governo Bolsonaro.
Além de liderança indígena, vem lutando sempre contra a violação de direitos locais e regionais contra invasão e garimpos ilegais, defendendo os direitos coletivos dentro do território.
Portanto, a representatividade de Marivelton é diferente de um poder executivo municipal, visto não termoss vínculos de barganha política para alcançar projetos”, diz a nota de esclarecimento da Foirn.
Apoios de entidades
Da mesma forma a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga) manifestaram apoio à indicação do presidente da Foirn à equipe de transição.
Leia as notas, na íntegra, de apoio e manifestações públicas das entidades indígenas.
Foto: Ricardo Stuckert