O Amazonas, três governadores, 12 meses e R$ 15 bilhões

Amazonino adversário

Aguinaldo Rodrigues

Publicado em: 31/12/2017 às 07:27 | Atualizado em: 31/12/2017 às 08:32

Por Rosiene Carvalho, da Redação

 

As medidas amargas na economia que o Governo José Melo adotou desde 2015 renderam fôlegos para os dois  governadores que o sucederam, David Almeida (PSD) e Amazonino Mendes (PDT), e evitaram o caos em 2015.

José Melo cortou gastos, exonerou funcionários, fez o que muitos gestores não têm força política e coragem para fazer: diminuiu o tamanho da máquina. Em função disso, criou rachas na sua base aliada.

Em que pese as graves denúncias de corrupção e inabilidade política contra ele, num ano de crise econômica e de crise política no Estado, essas foram medidas decisivas para que não ocorresse  aqui no Amazonas cenário semelhante ao que hoje  vivem Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

Em 2016, o Executivo tinha uma previsão  orçamentária de R$ 13.472.424.000,00 e terminou o ano com R$  15.391.100.724,01 em receita.

O problema de José Melo, no campo político, é que ele foi abatido em pleno voo e a colheita do que ele demorou um bom tempo plantando – e assumindo desgastes – coube ao presidente da ALE-AM, David Almeida, e ao governador eleito em 2017, Amazonino Mendes.

David, em cerca de cinco meses, determinou retomada de obras, agilizou pagamentos com o recurso estaduais e federais, organizou pagamento de fornecedores, concedeu abonos altos para professores e pagou parcelas do 13º salário.

O presidente da ALE-AM não tem o toque de midas, mas foi hábil e soube aproveitar o curto tempo pegando o vento a favor.

O terceiro governador de 2017, Amazonino Mendes, assumiu para finalizar o ano num período que, administrativamente, rende menos holofotes.

Mas Amazonino assinou, no último dia de expediente bancário, assinou um empréstimo de  R$ 300 milhões com o Banco do Brasil articulado por José Melo, quando governador.

O governador Amazonino, segundo dados do próprio Estado, tem boa perspectiva econômica: mais de R$ 5 bilhões em caixa para obras e previdência e previsão orçamentária com um bilhão a mais do que era previsto para 2017.

Ora, isso não é pouco para um ano em que há perspectiva  de melhoria da economia e em que ele não corre os riscos de cassação que José Melo  enfrentou durante toda a administração.

 

Gestão

O ano de 2017 deixa também um recado para a administração pública: há diferenças  entre saúde econômica e fiscal e gestão de recursos. O Estado não consegue oferecer qualidade  de serviço público, apesar de altos investimentos, por exemplo, na Saúde e na Segurança Pública, que hoje são setores dominados pela terceirização.

Isso deixa claro que não adianta  só ter dinheiro e fazer. Gestão e mecanismo de controle para evitar  corrupção, com desvios de recursos e conduta, influenciam decisivamente nos resultados.

 

Poder

No campo político, o ano termina com o quadro desenhado pela pulverização de poder distribuído nas mãos de três governadores diferentes em 12 meses.

Na política, a base se forma pela perspectiva de poder. Quanto maior o tempo que um grupo permanece no poder e demonstra que pode mantê-lo, maior o número de aliados.

A fragmentação do poder no Governo do Estado em 2017 explica a divisão que há hoje na ALE-AM, onde Amazonino conseguiu, com muita negociação, 13 deputados para aprovar o orçamento de 2018 e a oposição ganhou um grande espaço.

A perspectiva de melhora na economia e o ano eleitoral, quando os parlamentares vão disputar a reeleição, podem ajudar Amazonino Mendes a recompor o quadro político em 2018 na ALE-AM.

Ele também precisa perceber que não governa mais no tempo passado, onde a simples presença de um governador fazia com que o Legislativo se curvasse.