Por Rosiene Carvalho , da Redação
As medidas amargas na economia que o Governo José Melo adotou desde 2015 renderam fôlegos para os dois governadores que o sucederam, David Almeida (PSD) e Amazonino Mendes (PDT), e evitaram o caos em 2015.
José Melo cortou gastos, exonerou funcionários, fez o que muitos gestores não têm força política e coragem para fazer: diminuiu o tamanho da máquina. Em função disso, criou rachas na sua base aliada.
Em que pese as graves denúncias de corrupção e inabilidade política contra ele, num ano de crise econômica e de crise política no Estado, essas foram medidas decisivas para que não ocorresse aqui no Amazonas cenário semelhante ao que hoje vivem Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
Em 2016, o Executivo tinha uma previsão orçamentária de R$ 13.472.424.000,00 e terminou o ano com R$ 15.391.100.724,01 em receita.
O problema de José Melo, no campo político, é que ele foi abatido em pleno voo e a colheita do que ele demorou um bom tempo plantando – e assumindo desgastes – coube ao presidente da ALE-AM, David Almeida, e ao governador eleito em 2017, Amazonino Mendes.
David, em cerca de cinco meses, determinou retomada de obras, agilizou pagamentos com o recurso estaduais e federais, organizou pagamento de fornecedores, concedeu abonos altos para professores e pagou parcelas do 13º salário.
O presidente da ALE-AM não tem o toque de midas, mas foi hábil e soube aproveitar o curto tempo pegando o vento a favor.
O terceiro governador de 2017, Amazonino Mendes, assumiu para finalizar o ano num período que, administrativamente, rende menos holofotes.
Mas Amazonino assinou, no último dia de expediente bancário, assinou um empréstimo de R$ 300 milhões com o Banco do Brasil articulado por José Melo, quando governador.
O governador Amazonino, segundo dados do próprio Estado, tem boa perspectiva econômica: mais de R$ 5 bilhões em caixa para obras e previdência e previsão orçamentária com um bilhão a mais do que era previsto para 2017.
Ora, isso não é pouco para um ano em que há perspectiva de melhoria da economia e em que ele não corre os riscos de cassação que José Melo enfrentou durante toda a administração.
Gestão
O ano de 2017 deixa também um recado para a administração pública: há diferenças entre saúde econômica e fiscal e gestão de recursos. O Estado não consegue oferecer qualidade de serviço público, apesar de altos investimentos, por exemplo, na Saúde e na Segurança Pública, que hoje são setores dominados pela terceirização.
Isso deixa claro que não adianta só ter dinheiro e fazer. Gestão e mecanismo de controle para evitar corrupção, com desvios de recursos e conduta, influenciam decisivamente nos resultados.
Poder
No campo político, o ano termina com o quadro desenhado pela pulverização de poder distribuído nas mãos de três governadores diferentes em 12 meses.
Na política, a base se forma pela perspectiva de poder. Quanto maior o tempo que um grupo permanece no poder e demonstra que pode mantê-lo, maior o número de aliados.
A fragmentação do poder no Governo do Estado em 2017 explica a divisão que há hoje na ALE-AM, onde Amazonino conseguiu, com muita negociação, 13 deputados para aprovar o orçamento de 2018 e a oposição ganhou um grande espaço.
A perspectiva de melhora na economia e o ano eleitoral, quando os parlamentares vão disputar a reeleição, podem ajudar Amazonino Mendes a recompor o quadro político em 2018 na ALE-AM.
Ele também precisa perceber que não governa mais no tempo passado, onde a simples presença de um governador fazia com que o Legislativo se curvasse.