Integrantes da operação Lava Jato disseram a O Antagonista que, se a delação do ex-ministro da Fazenda dos governos Lula e Dilma, Antonio Palocci, avançar, eles poderão chamar a depor o pastor Caio Fabio, envolvido no caso do “Dossiê Cayman”.
A delação de Palocci está em Veja deste fim de semana.
O reverendo Caio Fabio, da Igreja Presbiteriana, denunciou há alguns anos que a ajuda do ditador da Líbia Muamar Kadafi, executado em 2011, para o então presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva, pode ter alcançado a cifra de US$ 35 milhões.
Na entrevista de nove minutos, o pastor disse ter ficado decepcionado com o que ouviu de Lula em 1998 em relação a propina estrangeira.
“Lula me dizia que ‘no dia em que eu for eleito, você vai ter orgulho do Brasil, do seu presidente’”.
E prosseguiu o pastor em relação a uma visita feita pelo petista ao gabinete do religioso: “Até aquele dia, maio de 1998, ele (Lula) disse que precisava do tal dossiê, porque eu era o homem com credibilidade para consegui-lo”.
E Lula teria dito, de acordo com Caio Fabio: “Pelo amor de Deus, eu tenho 35 milhões de dólares para internar no Brasil, que o Kadafi quer me doar, e eu não tenho quem traga o dinheiro. Será se um amigo seu, empresário, não faria isso por mim, reverendo?”.
O pastor disse ter ficado perplexo: “Aí meu coração gelou! E eu falei: cara, ele é igualzinho a todo mundo”.
Entenda o Dossiê Cayman
O Dossiê Cayman (registrado como história na Enciclopédia Wikipédia) foi um conjunto de documentos, comprovadamente falsos, criado com o objetivo de atribuir crimes inexistentes a políticos e a candidatos do PSDB nas eleições brasileiras de 1998.
O dossiê atribuía a prática de elisão fiscal aos tucanos Fernando Henrique Cardoso (que se candidatava à reeleição para presidente), Mário Covas (reeleição para governador de São Paulo), José Serra e Sérgio Motta.
Esse dossiê continha informações de que esses candidatos teriam milhões de dólares depositados em paraísos fiscais do Caribe.
Investigações posteriores provaram que esse dossiê continha informações forjadas, produzidos por pessoas interessadas em ganhos com a venda do mesmo a adversários políticos dos tucanos acusados.
Cópias foram espalhadas e vendidas a candidatos da oposição durante as eleições de 1998.
Entre eles, estaria Paulo Maluf (PP), ex-prefeito de São Paulo (1993-1996).
O ex-presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992) é acusado de, junto com seu irmão Leopoldo, de comprar o dossiê por US$ 2,2 milhões.
O dossiê também teria sido oferecido a Lula que não se interessou em comprá-lo.
Apurou-se que montagem do falso dossiê começou quando os empresários brasileiros residentes em Miami Ney Lemos dos Santos, João Roberto Barusco, Honor Rodrigues da Silva e sua mulher Cláudia Rivieri compraram por US$ 3,2 mil a empresa CH, J & T, aberta em 1994 nas Bahamas pelo advogado americano Robert Allen Junior.
Na papelada, eles colaram uma cópia da assinatura oficial do ex-ministro das Comunicações Sérgio Motta como sendo um dos seus diretores, junto com um sócio fictício chamado Ray Terence, e venderam as fotocópias para Leopoldo Collor e a Luiz Cláudio Ferraz da Silva, amigo da família Collor.
Um dos falsificadores, Honor Rodrigues da Silva, chegou a ser preso no México.
O pastor
O reverendo Caio Fábio D’Araújo Filho, ex-líder evangélico de grande prestígio na época, foi acusado pela Polícia Federal de ser o principal intermediador do esquema.
Eles (os oposicionistas) incentivaram o então reverendo da Igreja Presbiteriana a tentar negociar uma cópia do documento forjado para tentar vencer as eleições de 1998, prejudicando o PSDB, e principalmente seu candidato à Presidência, Fernando Henrique Cardoso.
Em novembro de 2011, Caio Fábio foi condenado a quatro anos de prisão por envolvimento no crime (na foto, a montagem de alguns cenários do pastor com Lula, com amigo, em entrevista de TV e uma irônica ilustração do lobo travestido de cordeiro).
A sentença, da juíza da Justiça Eleitoral Léa Maria Barreiros Duarte, foi posteriormente anulada por decisão do juiz do Tribunal Regional Eleitoral Alexandre David Malfatti, em fevereiro de 2012.
Os políticos tucanos não foram prejudicados naquela eleição, porém o assunto sempre volta à tona em épocas eleitorais.
Veja o vídeo da entrevista
https://www.youtube.com/watch?v=N5i0D9636u0
Fontes: O Antagonista e Wikipédia
Fotos: Agência Brasil e reprodução/Libertar.in
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