Iram Alfaia , da Redação
Eleito presidente da Comissão Especial que vai analisar proposta para a Previdência, o deputado federal Marcelo Ramos (PR) tem consciência do tamanho da sua projeção no cenário político. Como ele mesmo classificou, ocupa agora o segundo cargo mais importante da Câmara dos Deputados, obviamente atrás apenas do presidente do poder, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
“Acho que isso é um motivo de orgulho para o povo do Amazonas”, diz o deputado que pretende usar o cargo como instrumento de proteção do estado.
“O ministro da Economia (Paulo Guedes) vai pensar dez vezes em atacar a Zona Franca, na verdade vai pensar 20, porque tem Omar (senador Aziz) na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) ”, afirmou ao BNC após almoçar um sanduiche já no final da tarde, no plenário da Casa.
Segundo ele, não é pouco um deputado de primeiro mandato, de um estado que só tem oito deputados federais, chegar a presidir o segundo cargo mais importante da Casa, “porque efetivamente essa é a pauta do país”.
Marcelo Ramos também fez questão de destacar a participação no colegiado dos deputados Bosco Saraiva (SD) e Capitão Alberto Neto (PRB). E ainda do papel desempenhado pela bancada no Congresso.
“Esse registro eu faço questão de fazer que é o nível de dedicação e de unidade da nossa bancada. Nós nunca tivemos uma bancada que coletivamente conseguisse ocupar espaços tão importantes na Casa. Nós somos oito de 513. Nós presidimos aqui três comissões permanentes”, destacou.
Na sua opinião, há um esforço coletivo da bancada (oito deputados federais e dos três senadores).
“Nós temos nos agigantado na defesa dos interesses do Amazonas. Eu preciso reconhecer isso e dividir tudo que está acontecendo comigo com os colegas de bancada”, afirmou.
Questionado se não ganha musculatura para a disputa das eleições municipais, o deputado diz que a presidência da comissão, de certa maneira, vai lhe afastar um pouco mais de Manaus.
“Nesse momento o Brasil e o Amazonas precisam de mim. É me apequenar pensar em projeto político. Eu acho que isso vai vir lá na frente naturalmente, não é minha pauta”, desconversou.
Carimbo de bolsonarista
Como sua eleição não deixou de ter o aval do Palácio do Planalto, Ramos disse não temer ter sua imagem associada ao do presidente da República, Jair Bolsonaro.
“Eu tenho um mandato independente. Não tenho simpatia por esse governo, todo mundo sabe disso. Não tenho simpatia pela forma deles de governar, pela forma como eles encaram a relação com a população. Não enxergo neles um projeto político consistente de construção de um futuro de retomada de crescimento para o país, na educação, na saúde e em setores fundamentais, então, tenho severas restrições a esse governo. Agora a reforma, mais do que uma matéria de governo, ela é uma matéria de país, o país precisa de uma reforma”, disse.
Matéria antipopular
Apesar da grande projeção política, o deputado amazonense também pode sofrer desgaste de grande proporção, uma vez que a proposta de reforma da Previdência tem a rejeição da maioria da população brasileira.
Ele sabe das consequências, mas diz vai agir sem se esconder. “Primeiro sou uma pessoa que sempre tem posição. Eu digo que o povo pode discordar das minhas posições, mas é uma covardia esconder do povo suas posições”, disse.
Marcelo lembrou que fez campanha falando a favor da reforma da Previdência. Afirmou que quando a proposta começou a tramitar ponderou que o equilíbrio fiscal era necessário, mas sem o sacrifício dos mais pobres.
“Nós não temos o direito fazer equilíbrio fiscal pedindo sacrifício de um idoso ou de um deficiente de baixa renda. Nós não podemos pedir sacrifício de um trabalhador rural. Então, nós precisamos fazer esses ajustes, essa calibragem, que é a palavra que estou usando”, afirmou.
Ele diz que as mudanças no BPC (Benefício de Prestação Continuada), trabalhadores rurais, abono do PIS e professores já estão praticamente fora do projeto. Quanto ao regime de capitalização, que transforma a previdência pública numa poupança individual nos bancos privados, o deputado diz que como foi proposta não prospera.
Como vai conduzir
O deputado diz que é importante que as pessoas entendam qual o papel dele na comissão.
“Eu não fui eleito líder do governo na comissão, fui eleito presidente. O meu papel não é construir maioria para aprovar a reforma, o meu papel é conduzir os trabalhos”, explicou.
Por fim, Ramos prometeu que na condução do trabalho vai respeitar a oposição, garantindo todos os instrumentos de obstrução regimental aos quais os oposicionistas têm direito.
“Reconhecendo, porque estive do lado de lá (ex-vereador do PCdoB), que as vezes é preciso criar um fato político, mas deixando claro a eles que eu tenho uma missão: fazer a reforma ser colocada em votação na comissão. Eu cumprirei essa missão”, finalizou.
Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados