Pesquisadores do Inpa dizem que Bolsonaro agride a ciência brasileira

Pesquisadores do Inpa

Neuton Correa

Publicado em: 20/08/2019 às 15:25 | Atualizado em: 20/08/2019 às 15:25

Por Iram Alfaia, de Brasília

 

Em manifesto, os pesquisadores e tecnologistas do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa) prestaram apoio ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e ao ex-diretor do órgão Ricardo Galvão, demitido do cargo após criticar o presidente Jair Bolsonaro (PSL) que chegou a chamar os dados do instituto sobre desmatamento da Amazônia de “mentirosos”.

O presidente disse várias vezes que os dados eram “mentirosos” e chegou a acusar o ex-diretor de estar a serviços de uma ONG internacional. Galvão disse que a atitude do presidente era “pusilânime e covarde”.

A comunidade científica do Inpa se diz chocada com as agressões de Bolsonaro que “não foram só contra o Inpe e o professor Ricardo Galvão, mas contra toda a ciência brasileira!”

“Convidamos a sociedade brasileira a defender o Inpe e todas as demais instituições científicas, educacionais e culturais do país, públicas e privadas, pois são indispensáveis para a construção de um mundo mais justo, solidário e responsável no presente e para as gerações futuras”, diz um trecho do documento.

No manifesto, os pesquisadores do Inpa apontam que o trabalho dos cientistas e técnicos do Inpe estão entre os melhores do mundo em suas áreas de atuação. Os dados produzidos pelo órgão são públicos e somente devem ser questionados por meio de argumentos científicos sólidos, e não por motivações de caráter ideológico, político ou de qualquer outra natureza.

“Hoje, a atual crise ambiental sem precedentes sugere fortemente a necessidade de ações solidárias e coletivas, que exigem a valorização da ciência, do conhecimento e da verdade objetiva”, dizem.

Eles argumentam ainda que são seis décadas de prestação de serviços da instituição ao país e ao mundo fazendo ciência sem amarras políticas e religiosas.

“A pesquisa científica é insubstituível para o país e é dever de todos a sua defesa, pois, sem ela, nenhum cidadão está protegido da manipulação grosseira de dados e descobertas que pode afetar sua saúde, seu ambiente e seu bem-estar”, acrescentaram.

Por fim, eles consideraram inadmissível o comportamento de alguns setores do governo, negando a verdade, recusando sistematicamente reconhecer dados científicos sérios, a ponto de questionar o fazer científico.

“Os discursos que questionam a imparcialidade de um dos institutos mais sérios do Brasil questionam todas as instituições culturais e científicas do país”, concluíram.

Assinam o documento os seguintes pesquisadores:

Adalberto Luis Val

Alberto Vicentini

Albertina Lima

Ana Carla Bruno

Arnaldo Carneiro

Augusto Henriques

Camila Ribas

Cecília Veronica Nunez

Charles Roland Clement

Cláudia Keller

Edinaldo Nelson dos Santos

Fernanda Werneck

Flávia Costa

George Henrique Rebelo

Jorge Lobato

Hiroshi Noda

Isolde Dorothea Kossmann Ferraz

José Antônio Alves Gomes

Luiz Antônio de Oliveira

Magalli Henriques

Michael John Gilbert Hopkins

Nadja Maria Lepsch da Cunha Nascimento

Maria Nazareth F. da Silva

Newton Falcão

Niwton Leal Filho

Paulo Maurício de Alencastro Graça

Reinaldo Imbrozio

Rogério Hanada

Rogério Souza de Jesus

Sidney Alberto Nascimento Ferreira

Sonia Sena Alfaia e

Vera Maria Fonseca Almeida-Val

 

Foto: Rayane Rocha/Facebook/Bosque da Ciência/Rayane Rocha