Por Iram Alfaia , de Brasília
Em manifesto, os pesquisadores e tecnologistas do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa) prestaram apoio ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e ao ex-diretor do órgão Ricardo Galvão, demitido do cargo após criticar o presidente Jair Bolsonaro (PSL) que chegou a chamar os dados do instituto sobre desmatamento da Amazônia de “mentirosos”.
O presidente disse várias vezes que os dados eram “mentirosos” e chegou a acusar o ex-diretor de estar a serviços de uma ONG internacional. Galvão disse que a atitude do presidente era “pusilânime e covarde”.
A comunidade científica do Inpa se diz chocada com as agressões de Bolsonaro que “não foram só contra o Inpe e o professor Ricardo Galvão, mas contra toda a ciência brasileira!”
“Convidamos a sociedade brasileira a defender o Inpe e todas as demais instituições científicas, educacionais e culturais do país, públicas e privadas, pois são indispensáveis para a construção de um mundo mais justo, solidário e responsável no presente e para as gerações futuras”, diz um trecho do documento.
No manifesto, os pesquisadores do Inpa apontam que o trabalho dos cientistas e técnicos do Inpe estão entre os melhores do mundo em suas áreas de atuação. Os dados produzidos pelo órgão são públicos e somente devem ser questionados por meio de argumentos científicos sólidos, e não por motivações de caráter ideológico, político ou de qualquer outra natureza.
“Hoje, a atual crise ambiental sem precedentes sugere fortemente a necessidade de ações solidárias e coletivas, que exigem a valorização da ciência, do conhecimento e da verdade objetiva”, dizem.
Eles argumentam ainda que são seis décadas de prestação de serviços da instituição ao país e ao mundo fazendo ciência sem amarras políticas e religiosas.
“A pesquisa científica é insubstituível para o país e é dever de todos a sua defesa, pois, sem ela, nenhum cidadão está protegido da manipulação grosseira de dados e descobertas que pode afetar sua saúde, seu ambiente e seu bem-estar”, acrescentaram.
Por fim, eles consideraram inadmissível o comportamento de alguns setores do governo, negando a verdade, recusando sistematicamente reconhecer dados científicos sérios, a ponto de questionar o fazer científico.
“Os discursos que questionam a imparcialidade de um dos institutos mais sérios do Brasil questionam todas as instituições culturais e científicas do país”, concluíram.
Assinam o documento os seguintes pesquisadores:
Adalberto Luis Val
Alberto Vicentini
Albertina Lima
Ana Carla Bruno
Arnaldo Carneiro
Augusto Henriques
Camila Ribas
Cecília Veronica Nunez
Charles Roland Clement
Cláudia Keller
Edinaldo Nelson dos Santos
Fernanda Werneck
Flávia Costa
George Henrique Rebelo
Jorge Lobato
Hiroshi Noda
Isolde Dorothea Kossmann Ferraz
José Antônio Alves Gomes
Luiz Antônio de Oliveira
Magalli Henriques
Michael John Gilbert Hopkins
Nadja Maria Lepsch da Cunha Nascimento
Maria Nazareth F. da Silva
Newton Falcão
Niwton Leal Filho
Paulo Maurício de Alencastro Graça
Reinaldo Imbrozio
Rogério Hanada
Rogério Souza de Jesus
Sidney Alberto Nascimento Ferreira
Sonia Sena Alfaia e
Vera Maria Fonseca Almeida-Val
Foto: Rayane Rocha/Facebook/Bosque da Ciência/Rayane Rocha