A nova presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), a amazonense de Parintins, Bruna Brelaz, 26 anos, está ajudando a articular um movimento nacional por uma “frente ampla” contra o governo Bolsonaro e em defesa do impeachment do presidente da República.
Nessa articulação política, desde julho, quando tomou posse na presidência da UNE, Bruna Brelaz já se encontrou com os ex-presidentes Lula, Fernando Henrique Cardoso e com presidenciável Ciro Gomes (PDT).
Outro movimento importante na montagem dessa frente ampla de partidos e organizações foi a participação dela nas manifestações contra o presidente Bolsonaro, no dia 12 de setembro, promovidas pelo campo de centro-direita, quando até subiu no carro de som do MBL (Movimento Brasil Livre).
Por conta dessa posição, que destoa da maior parte dos partidos e entidades de esquerda, a presidenta da UNE vem sofrendo muitas críticas desse campo.
Por outro lado, tem mantido boa interlocução com movimentos e partidos não associados à esquerda para o ato de 2 de outubro.
Caras da democracia
Não menos importante, Bruna Brelaz foca a sua gestão no retorno do movimento estudantil às mobilizações não mais visto desde o impeachment de Collor e os eventos de 2019.
“Com o apoio dos estudantes, da juventude brasileira, nos moldes das Diretas Já – movimento amplo em defesa do voto e eleições diretas; dos “caras pintadas” do movimento Fora Collor, nos anos 1990, do Tsunami da educação em 2019 – primeiras manifestações massivas contra Bolsonaro, a UNE vai convocar outra vez as novas ‘Caras da Democracia’ para transformar essas que devem ser as maiores manifestações políticas do nosso tempo”, afirma a nova presidenta da UNE.
Pauta educacional
Entre os temas a serem enfrentados em sua gestão, até 2023, Bruna destaca:
a luta pela reposição do orçamento das universidades federais; a renovação da Lei de Cotas, no ano que vem, políticas públicas para permanência na escola elevar o debate pela defesa do meio ambiente e da Amazônia.
Bruna Brelaz foi eleita a presidente da UNE em julho deste ano
A seguir, leia o artigo produzido pela nova presidenta da UNE, onde explica e argumenta os pontos de vista sobre sua articulação pela frente ampla contra Bolsonaro.
É hora de uma frente ampla pela democracia
*Bruna Brelaz
Não se passa uma semana sem que Bolsonaro e seu governo crie o caos no país, seja pelos recorrentes ataques à democracia, pela negligência com as questões ambientais, pelo negacionismo à ciência seja pela falta de projeto e retrocessos na educação.
E, desde a “retomada das ruas”, em maio deste ano, em mobilizações simultâneas nacionais e internacionais contra este (des) governo, milhares de brasileiros se levantaram contra a condução irresponsável do país na pandemia, que representou a perda de mais 600 mil vidas. Entretanto, a espiral trágica dos retrocessos está longe de ter um recuo. No dia 7 de Setembro, Bolsonaro deu um recado claro ao país: avançar sobre a democracia e a Constituição para implementar a fórceps seu projeto de poder.
Como presidenta da UNE, esta entidade que tem 84 anos de atuação, que representa cerca de 8 milhões de estudantes universitários, que sempre fez a defesa intransigente da educação pública e gratuita, da democracia e da soberania nacional, vejo que o momento que atravessamos é gravíssimo para os estudantes, para a juventude e impacta diretamente o futuro da nossa geração. Entendemos que mais tempo do (des) governo Bolsonaro e de sua permanência na Presidência da República levarão sérias consequências para o futuro democrático do Brasil. Bolsonaro hoje é a maior ameaça à democracia e ao principal elemento que a sustenta, as eleições e o voto popular, que ele insiste em atacar e ameaçar.
O dia 7 de setembro não pode ser subestimado e precisa de respostas à altura. Tenho costurado com diversas lideranças do movimento social e dos partidos, como Lula, Ciro Gomes, Fernando Henrique Cardoso, a formatação de um ambiente que seja capaz de lotar as ruas em uma agenda permanente de mobilização. Foi neste sentido também que no dia 12 de setembro optei, enquanto liderança do movimento social, a me somar contra o governo Bolsonaro, convocado por grupos do qual temos profundas divergências sobre as lutas identitárias, condução econômica e de direitos.
Meu gesto e de outras lideranças da esquerda representam um grande chamado coletivo para que nas próximas manifestações, nos dias 2 de outubro e 15 de novembro, as mobilizações recebam mais brasileiros, mais instituições, mais grupos e partidos a fim de unir forças e promover o impeachment do presidente Bolsonaro pelos inúmeros crimes de natureza civil, penal e de responsabilidade que tem cometido nos últimos dois anos de seu (des) governo. O impeachment é urgente. Não é possível domar o bolsonarismo, ele é antidemocrático por natureza. É hora de construir um grande levante com todos e todas, independentemente dos posicionamentos políticos, na defesa do Estado Democrático de Direitos.
Com o apoio dos estudantes, da juventude brasileira, nos moldes das Diretas Já – movimento amplo em defesa do voto e eleições diretas; dos “caras pintadas” do movimento Fora Collor, nos anos 1990, do Tsunami da educação em 2019 – primeiras manifestações massivas contra Bolsonaro, a UNE convocará outra vez as novas “Caras da Democracia” para transformar essas que devem ser as maiores manifestações políticas do nosso tempo.
*Bruna Brelaz, 26 anos, estudante de direito, foi presidenta da UEE Amazonas e atualmente é presidenta da UNE (2021- 2023). É a primeira mulher negra à frente da entidade e também a primeira estudante da região Norte.
Fotos: Divulgação