Renan diz que os culpados pelo caos na pandemia serĂ£o punidos
Senador comparou a nomeaĂ§Ă£o de Pazuello e a militarizaĂ§Ă£o do MinistĂ©rio da SaĂºde durante a pandemia ao envio de um infectologista para comandar as tropas em uma guerra

Publicado em: 27/04/2021 Ă s 13:34 | Atualizado em: 27/04/2021 Ă s 13:34
O Senado iniciou nesta terça-feira (27) os trabalhos da CPI da covid, comissĂ£o que vai investigar as ações e possĂveis omissões do governo federal durante a crise sanitĂ¡ria no Brasil e o senador Renan Calheiros (MDB-AL) foi indicado para ser o relator da CPI da covid pelo presidente eleito pela comissĂ£o, Omar Aziz (PSD-AM).
A escolha representa a primeira derrota de parlamentares aliados do governo Bolsonaro — que manobraram para barrar o nome de Renan.
“HĂ¡ responsĂ¡veis, hĂ¡ culpados, por aĂ§Ă£o, omissĂ£o, desĂdia ou incompetĂªncia e eles serĂ£o responsabilizados. Essa serĂ¡ a resposta para nos reconectarmos com o planeta. Os crimes contra humanidade nĂ£o prescrevem jamais e sĂ£o transnacionais”, disse o relator da CPI da covid em seu discurso.
Logo no inĂcio da sessĂ£o, os parlamentares foram informados que o Tribunal Regional Federal da 1ª regiĂ£o (TRF-1) suspendeu a liminar de primeira instĂ¢ncia que impedia o senador Renan Calheiros (MDB-AL) de assumir a relatoria da CPI da covid.
A decisĂ£o foi uma resposta ao recurso apresentado pela Mesa do Senado Federal, que recorreu de uma liminar concedida em uma aĂ§Ă£o popular movida pela deputada bolsonarista Carla Zambelli (PSL-SP), aliada do presidente Jair Bolsonaro, junto ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal.
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O relator da CPI da Covid, Renan Calheiros (MDB-AL), afirmou que crimes contra a humanidade nĂ£o prescrevem e relembrou os casos dos ditadores Slobodan Milosevic e Augusto Pinochet.
“NĂ£o foi o acaso ou flagelo divino que nos trouxe a este quadro. HĂ¡ responsĂ¡veis, hĂ¡ culpados, por aĂ§Ă£o, omissĂ£o, desĂdia ou incompetĂªncia e eles serĂ£o responsabilizados. Essa serĂ¡ a resposta para nos reconectarmos com o planeta. Os crimes contra humanidade nĂ£o prescrevem jamais e sĂ£o transnacionais. Slobodan Milosevic e Augusto Pinochet sĂ£o exemplos histĂ³ricos. Façamos nossa parte”, disse.
Ele afirmou, ainda, que a comissĂ£o serĂ¡ “um santuĂ¡rio da ciĂªncia, do conhecimento e uma antĂtese diĂ¡ria e estridente ao obscurantismo negacionista e sepulcral, responsĂ¡vel por uma desoladora necrĂ³pole”.
Antes, em seu primeiro discurso como relator, Renan criticou o ex-ministro da SaĂºde, general Eduardo Pazuello, mas sem citĂ¡-lo diretamente.
Ele comparou a nomeaĂ§Ă£o de Pazuello e a militarizaĂ§Ă£o do MinistĂ©rio da SaĂºde durante a pandemia ao envio de um infectologista para comandar as tropas em uma guerra.
“O resultado fala por si: No pior dia da Covid, em apenas 4 horas o nĂºmero de brasileiros mortos foi igual a todos que tombaram nos campos de batalha da Segunda Guerra. O que teria acontecido se tivĂ©ssemos enviado um infectologista para comandar nossas tropas? Provavelmente um morticĂnio. Por que guerras se enfrentam com especialistas, sejam elas bĂ©licas ou sanitĂ¡rias. A diretriz Ă© clara: militar nos quartĂ©is e mĂ©dicos na SaĂºde. Quando se inverte, a morte Ă© certa. E foi isso o que aconteceu. Temos que explicar, como, por que isso ocorreu”, disse Renan.
O senador afirmou ainda que a comissĂ£o “serĂ¡ um santuĂ¡rio da ciĂªncia” e uma antĂtese ao “obscurantismo negacionista”.
“Estaremos aqui para averiguar fatos e desprezar farsas. Para tanto, usaremos das instĂ¢ncias tĂ©cnicas do Estado, como PolĂcia Federal, MinistĂ©rio PĂºblico, TCU, a consultoria do Senado e outros organismos que se fizerem necessĂ¡rios. A comissĂ£o serĂ¡ um santuĂ¡rio da ciĂªncia, do conhecimento e uma antĂtese diĂ¡ria e estridente ao obscurantismo negacionista e sepulcral, responsĂ¡vel por uma desoladora necrĂ³pole que se expande diante da incĂºria e do escĂ¡rnio desumano. Essa serĂ¡ a comissĂ£o da celebraĂ§Ă£o da vida, da afirmaĂ§Ă£o do conhecimento e, sobretudo, da sacralizaĂ§Ă£o da verdade contra o macabro culto Ă morte e contra o Ă³dio. Os brasileiros tĂªm o direito de voltar a viver em paz.
Renan disse ainda que vai se pautar com a “isenĂ§Ă£o e a imparcialidade” que a funĂ§Ă£o impõe. Ele tambĂ©m prometeu uma investigaĂ§Ă£o tĂ©cnica e despolitizada.
“O que nos compete Ă© construir alianças para que essa CPI possa caminhar cada vez mais com absoluta maioria em torno da busca pela verdade. Me pautarei pela isenĂ§Ă£o e imparcialidade que a funĂ§Ă£o impõe, independente de minhas posições pessoais”, disse Renan.
ApĂ³s a escolha de Renan como relator da CPI, Aziz indeferiu uma questĂ£o de ordem apresentada pelo senador Jorginho Mello (PL-SC), aliado do governo, que queria impedir a escolha do senador alagoano por considerĂ¡-lo suspeito.
Aziz tambĂ©m criticou a decisĂ£o liminar em primeira instĂ¢ncia que tinha a mesma intenĂ§Ă£o, mas acabou derrubada pelo TRF-1 momentos antes da votaĂ§Ă£o.
O argumento Ă© de aliados do governo Ă© que Renan Ă© pai do governador de Alagoas, Renan Filho, que poderia vir a ser alvo das investigações. A CPI tem como um dos objetivos apurar repasses federais aos estados e municĂpios.
Em outra frente de ataque, senadores governistas tentaram suspender a instalaĂ§Ă£o da CPI com a alegaĂ§Ă£o de que os integrantes nĂ£o podem participar de duas comissões ao mesmo tempo.
ApĂ³s duas horas de sessĂ£o, os senadores votaram para escolher os seus integrantes.
Com oito votos, o senador Omar Aziz (PSD-AM) foi eleito presidente da CPI da Covid nesta terça-feira.
O senador Eduardo GirĂ£o (Podemos-CE) teve trĂªs votos e saiu derrotado.
Na vice-presidĂªncia, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) foi eleito com sete votos. Houve quatro abstenções.
ApĂ³s ser empossado na presidĂªncia da CPI da covid , Aziz disse que ninguĂ©m pode ser protegido no colegiado.
Ele defendeu que Ă© preciso descobrir “o que deixou de ser feito” na gestĂ£o da pandemia, “seja ele ministro, assessor ou quem for”.
“Vamos seguir daqui para frente com toda a dignidade que o povo brasileiro espera da gente – declarou o senador.
O parlamentar tambĂ©m defendeu ações equilibradas para ajudar no combate Ă pandemia e disse que nĂ£o vai permitir que questões polĂticas interfiram nos trabalhos.
“Sei que o debate serĂ¡ proveitoso e que essa CPI levarĂ¡ uma esperança maior na aquisiĂ§Ă£o de vacinas, kits e tecnologia para que possamos dar uma esperança para milhares de pessoas. NĂ£o dĂ¡ para a gente discutir questões polĂticas em cima de quase 400 mil mortos”, disse Aziz.
Ele afirmou, ainda, que Ă© preciso ter isenĂ§Ă£o porque entre os mortos pelo novo coronavĂrus hĂ¡ pessoas de diferentes correntes polĂticas:
“Essa CPI nĂ£o pode servir para se vingar de ninguĂ©m, ela tem que fazer justiça pelos Ă³rfĂ£os que perderam o pai e a mĂ£e e agora tĂªm futuro incerto. Essa CPI nĂ£o Ă© de 11 senadores titulares e 7 suplentes, ela estĂ¡ no lar de todos os brasileiros”, destacou.
Entre os convocados mais provĂ¡veis da CPI estĂ£o os ex-ministros da SaĂºde do governo Bolsonaro, Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich e Eduardo Pazuello, e o ex-secretĂ¡rio de ComunicaĂ§Ă£o da PresidĂªncia, FĂ¡bio Wanjgarten.
Aliado de Bolsonaro, Ciro Nogueira (PP-PI) afirmou que votou em Omar Aziz para presidir a relatoria. Segundo Nogueira, Aziz lhe prometeu que seria “imparcial” na conduĂ§Ă£o dos trabalhos.
O presidente nacional do PP, no entanto, disse ver com “preocupaĂ§Ă£o” o fato de Renan Calheiros assumir a relatoria da investigaĂ§Ă£o.
“Parabenizo Randolfe pela vice-presidĂªncia e digo a Renan: neste momento nĂ£o vejo obstĂ¡culo algum para que seja relator. HĂ¡ uma hora atrĂ¡s, existia uma decisĂ£o judicial, que era absurda, mas existia. NĂ£o se pode cumprir uma decisĂ£o e descumprir outra. Se essa CPI estĂ¡ funcionando Ă© por conta de uma decisĂ£o judicial. NĂ£o vejo obstĂ¡culo, Renan, (porque a decisĂ£o que havia foi derrubada). Eu vejo preocupaĂ§Ă£o. E espero que minhas preocupações se percam no tempo. Espero que saiba honrar essa vontade do nosso presidente, da maioria, de ser relator”, disse.
“Tenho total divergĂªncia que, no caso de acusaĂ§Ă£o contra seu filho (o governador de Alagoas, Renan Filho), o senhor vai se ausentar. NĂ£o existe “meio relator”. Ou Ă© relator ou nĂ£o Ă©. Espero que nĂ£o haja nenhum tipo de acusaĂ§Ă£o contra seu filho, que Ă© um grande amigo meu, mas se isso vier a ocorrer, o senhor tem que relatar. AtĂ© porque ficarĂ¡ sob sua responsabilidade a elaboraĂ§Ă£o do relatĂ³rio serĂ¡ final”, argumentou Nogueira.
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Foto: DivulgaĂ§Ă£o