Por Iram Alfaia, de Brasília
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, deixou a Alemanha nesta quarta-feira, dia 2, com “as mãos abanando”, isto é, sem conseguir desbloquear a doação de R$ 155 milhões daquele país ao Fundo Amazônia, o maior programa de proteção da floresta e desenvolvimento sustentável na região.
A informação foi divulgada pela Deutsche Welle, emissora pública alemã que produz jornalismo independente em 30 idiomas.
Além disso, o ministro do governo de Jair Bolsonaro não obteve êxito no pedido para que a Alemanha intermediasse uma negociação do Brasil com a Noruega, que também suspendeu um novo repasse de 133 milhões de reais ao fundo.
Já foram doados ao Fundo Amazônia R$ 3,4 bilhões, sendo 93,8% oriundos do governo da Noruega, 5,7% do governo da Alemanha, 0,5% da Petrobras.
Segundo a emissora alemã, Berlim diz a ministro que só vai rever suspensão de repasse milionário quando tiver garantia de “que o dinheiro será bem investido”.
Em agosto, Bolsonaro disse que não precisava do valor.
“A Noruega não é aquela que mata baleia lá em cima, no Polo Norte, não? Que explora petróleo também lá? Não tem nada a oferecer de exemplo para nós. Pega a grana e ajuda a Angela Merkel a reflorestar a Alemanha”, disse ele ao ser questionado sobre a decisão dos noruegueses.
No mesmo mês, a ministra do Meio Ambiente, Proteção da Natureza e Segurança Nuclear da Alemanha, Svenja Schulze, anunciou o congelamento da verba, argumentando que a política do governo de Jair Bolsonaro em relação à Amazônia “deixa dúvidas se ainda persegue uma redução consequente das taxas de desmatamento”.
Com o objetivo de desbloquear os recursos, o ministro Salles tentou minimizar a fala do presidente. Em entrevista ao jornal conservador Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ), o ministro disse que o Brasil está, sim, interessado no financiamento alemão e que a fala do presidente foi apenas uma reação “a uma manifestação da Europa”. “Não vamos misturar política com questões técnicas”, afirmou.
Negociação
Deutsche Welle diz em reportagem que no mesmo dia Salles se encontrou com a ministra Schulze.
“A reunião não rendeu fotos ou a divulgação de uma declaração conjunta, como ocorre normalmente em reuniões com altos representantes estrangeiros. Ao final, Salles foi embora sem reaver o financiamento”, diz a emissora,
De acordo com o porta-voz, o encontro entre Salles e Schulze consistiu mais em uma troca de pontos de vista do que uma reunião com efeitos práticos. “A ministra Svenja Schulze deixou sua posição muito clara e pediu a proteção da Amazônia.”
O ministro de Bolsonaro passou três dias na Alemanha. A emissora diz que ele chegou com o objetivo de “desmistificar um sensacionalismo de informações que não são corretas sobre a situação ambiental brasileira”.
Na ocasião, o ministro também foi recebido com protesto pelo braço alemão do Greenpeace, que organizou manifestação contra ele em frente à sede da Confederação Alemã das Câmaras de Indústria e Comércio (DIHK), no centro da capital alemã.
Foto: C.Neher/Deutsche Welle