Senado confirma ida de comissão ao Vale do Javari (AM)

Pedido é do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que diz ser a comissão externa e terá papel mais amplo do que apenas acompanhar as buscas

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Iram Alfaia, do BNC Amazonas em Brasília

Publicado em: 13/06/2022 às 22:48 | Atualizado em: 14/06/2022 às 07:02

O Senado aprovou, nesta segunda-feira (13), a formação de uma comissão externa para apurar o desaparecimento do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira, funcionário licenciado da Fundação Nacional do Índio (Funai).  

Eles estão sumidos há oito dias após expedição que realizaram na região do Vale do Javari, no oeste do Amazonas. A família de Phillips informou que os corpos dos dois foram encontrados, mas a Polícia Federal negou.  

De acordo com a PF, foram encontrados materiais biológicos que estão sendo periciados, assim como os pertences pessoais dos desaparecidos 

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), autor da proposta, diz que a comissão externa terá um papel mais amplo do que apenas acompanhar as buscas pelos profissionais.  

“Parece-me que tem o esforço das autoridades na busca por Dom e por Bruno, mas tem algo que precisa ser apurado, ser investigado, que são as causas que levaram. As raízes. Seja qual for o desfecho, não desfecha o caso. Dom Phillips e Bruno foram vítimas de uma circunstância que está em curso na Amazônia e com o aumento da violência”, disse Randolfe.

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A comissão

A comissão será composta por três integrantes da Comissão de Direitos Humanos, três integrantes da Comissão de Meio Ambiente, e três integrantes da Comissão de Constituição e Justiça. Cada colegiado terá 24 horas para indicar os membros que viajarão para o Vale do Javari. 

“A Amazônia foi entregue ao banditismo político e ao banditismo de todas as formas: foi entregue ao banditismo do garimpo ilegal; foi entregue ao banditismo das madeireiras ilegais, que são responsáveis pelo maior avanço de desmatamento da Amazônia de todos os tempos; foi entregue ao narcotráfico”, justificou o senador. 

Para ele, era contra essa associação criminosa, no Vale do Javari, que Dom e Bruno e os povos indígenas lutavam. 

“Associação de narcotráfico, madeireiras ilegais, garimpo ilegal e toda a sorte de banditismo que se instalou na Amazônia”, afirmou. 

Ele diz que o crime se instalou na região porque o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos recursos Naturais Renováveis (Ibama), a Funai e todas as formas de fiscalização foram desmanteladas. 

“Instalou-se porque uma governança ambiental, que este país construiu ao longo de 30 anos, desde a Constituição de 1988, quando esculpiu o capítulo do meio ambiente no texto constitucional, foi destruída”, disse. 

Aziz 

Randolfe elogiou a fala do colega Omar Aziz (PSD) para quem o que aconteceu com o jornalista e o indigenista ocorre constantemente na região. 

“Há muitos amazonenses que morrem, diariamente, em razão do narcotráfico, em razão da pesca ilegal, em razão da extração de madeira, em razão do ouro que é extraído naquela região. E não é só naquela região, não; é no Alto Solimões todo”, explicou. 

Ex-governador do Amazonas, Aziz lembrou que há 20 anos os ribeirinhos que estavam no local foram retirados com a criação da Reserva do Javari, mas o estado não ocupou a região.  

“Não há política pública de inclusão para as pessoas que foram retiradas das suas casas, que eram ribeirinhos, pescadores que hoje dependem muito dessa atividade para viverem e sobrevirem”, disse. 

De acordo com ele, na região da tríplice fronteira (Brasil, Peru e Colômbia), onde está localizado o Vale do javari, a PF possui entre seis e sete agentes.  

“O contingente da Polícia Federal hoje não é suficiente para dar segurança nas nossas fronteiras. Existe lá, no Alto Solimões, na Tríplice Fronteira, lá no Rio Içá, que também sai do Peru e vai até o município de Santo Antônio do Içá, o maior corredor de drogas do mundo, já denunciado por mim várias vezes no Senado”, criticou. 

Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado

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