Da Redação
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) declarou que nenhum político de Manaus investiu dinheiro próprio em campanhas e “sempre” foram financiados por empresários.
Foi em entrevista que concedeu ao BNC e à rádio Tiradentes, na manhã desta segunda-feira, dia 24.
Lula disse que candidatos que disputam o cargo de governador nesta eleição suplementar também estão sendo bancados por empresários e que é preciso “coragem” para mudar esta prática.
Para Lula, a classe política precisa de coragem para alterar a legislação eleitoral na forma de financiamento de campanha para que o País possa mudar.
Toda a bancada federal do Amazonas que atua no Congresso Nacional, Casa responsável por alterar estas regras, está envolvida na campanha de algum dos candidatos que disputam a eleição suplementar.
“Não conheço um político em Manaus que vendeu a casa dele para ser candidato. Todos eles têm dinheiro de empresários. Todos eles. Não conheço um político em São Paulo que tenha vendido carro, casa para ser candidato. A vida inteira foi assim, desde que foi proclamada a República (…) Os candidatos que foram candidatos na eleição passada em Manaus. Todos, sem distinção, pegaram dinheiro de empresários. E nesta campanha, você pode ver, que tem muitos pegando dinheiro de empresários”, disse o ex-presidente Lula.
Lula afirmou que é preciso alterar a legislação eleitoral para romper com este tipo de ligação.
“Se os políticos não tiverem coragem de mudar a legislação eleitoral, de criar um fundo de financiamento de campanha para que não fiquem mais dependentes de empresários, o Brasil não vai ter jeito”, disse.
O ex-presidente afirmou que o que incomoda ele neste contexto é o tratamento de que todo dinheiro recebido em campanha é propina.
“Isso sempre ocorreu no País (financiamento de campanha com dinheiro de empresários). A diferença é que agora eles transformaram as doações em propinas. Então, ficou tudo criminoso (…) Esse processo começou com um depoimento da Camargo Corrêa em que ela foi instada a dizer que foi forçada a dar dinheiro. Tenho muitas dúvidas que foi forçada. A verdade é que sempre deram dinheiro e agora transformaram em propina”, disse.
O ex-presidente Lula lamentou a diminuição dos postos de trabalho na Zona Franca de Manaus e destacou os feitos positivos de sua gestão ao modelo. Lula afirmou que quando ele chegou à presidência, havia no Polo Industrial de Manaus 63 mil trabalhadores.
Depois, o número foi ampliado para 103 mil durante o governo dele. Quando deixou a presidência, Lula afirmou que havia 120 mil trabalhadores no PIM e que em maio deste ano o número é de queda para 84 mil postos de trabalho.
“É uma pena. O que dá dignidade ao ser humano é o trabalho e a renda. Nós sabemos o significado da Zona Franca para o povo de Manaus e a arrecadação para o Amazonas. Uma pena ver a Zona Franca cair como está caindo. Precisamos recuperar a economia e que o País volte a crescer. Isso foi jogado fora por causa do golpe”, disse.
Durante a entrevista, Lula admitiu que o Governo Dilma Rousseff (PT) cometeu erros e tomou ações que contrárias às promessas de campanha.
“Nós vimos que Dilma fez coisas que não estavam no discurso. Aí começamos a ter um problema de queda nas pesquisas de opinião, queda na economia, queda no emprego. Até que veio o impeachment da companheira Dilma que foi uma coisa ilegal, imoral porque tem uma parte da elite brasileira que não sabe conviver com a democracia”, afirmou.
Lula afirmou que os senadores Eduardo Braga (PMDB), Omar Aziz (PSD) e o deputado federal Alfredo Nascimento (PR) cometeram um erro histórico com País e lamentou que os mesmos tenham sido a favor do impeachment que depôs a presidenta Dilma Rousseff, de quem eram aliados. Lula afirmou que não foi bom para a “biografia deles”.
“Para mim, foi triste. Para mim foi triste ver tantos amigos da Dilma como o Eduardo Braga, como o Alfredo Nascimento, o Omar Aziz votarem pelo impeachment dela. Cometeram um erro histórico com o País e com a Dilma por causa de umas pedaladas inexistentes. Uma coisa que quase todo presidente faz. Não foi correto, não foi sensato e não foi bom para a história do Brasil e não foi bom para a biografia deles”, disse.
Lula afirmou que “espera” que a “bela relação institucional” e “amizade pessoal” com Eduardo, Alfredo e Omar não tenham sido abaladas.
“Eu tive uma bela relação com Alfredo Nascimento, com Omar Aziz e com Eduardo Braga. De respeito. Uma relação institucional (…) Espero que eu não tenha perdido a relação de amizade pessoal que eu consigo separar da minha relação política”, declarou.
No entanto, Lula afirmou que partiu dele o pedido para o PT apresentasse candidatura separada nesta eleição suplementar e distante dos políticos do Estado que apoiaram o “golpe”.
“Eu pedi para que o PT saísse separado para demarcar um pouco o nosso discurso. Porque se não dá a impressão que está todo mundo na mesma bacia. E não é verdade, é preciso que a gente mostre diferença política neste momento. E José Ricardo, nosso querido homem da Kombi, vai fazer isso como muita galhardia e muita competência”, disse Lula.
Apesar de ter sinalizado que poderia vir ao Amazonas para atos de campanha de José Ricardo (PT), que aparece em quarto lugar nas pesquisas eleitorais, Lula negou na entrevista que a agenda dele inclua viagem ao Estado no período. Justificou que fazer campanha no Amazonas é caro.
“Não está na minha agenda. Sei que está na agenda da presidente do PT, Gleise Hoffmann. Já disse ao companheiro José Ricardo que quantas entrevistas ele quiser marcar, eu farei. Porque é o jeito mais fácil de atingir o povo da capital e do interior. É difícil e muito cara uma campanha no Estado do Amazonas. Ou a pessoa tem uma avião. Ou tem um barco e o barco tem que ser rápido porque você corre o risco de não chegar à última cidade antes do fim da campanha”, disse.
Lula afirmou que, caso se candidate e seja eleito em 2018, o primeiro passo é “desmontar o que foi feito”. “Uma das primeiras coisas que teria que fazer é desmontar o que foi feito (…) Para o País melhorar é preciso colocar o pobre de novo no orçamento da união, transferência de renda (…) Enquanto o pobre não puder comprar um chinelo a mais, um frango a mais a economia não vai desenvolver”, disse.
Outro ponto, segundo Lula, é recuperar uma a credibilidade da política e das instituições.
“Eu gostaria que o PT tivesse várias candidaturas novas. Mas o que está acontecendo no Brasil de hoje, e deve estar acontecendo no Estado do Amazonas, quase todas as instituições têm pouca credibilidade”, disse.
A recuperação do País, para Lula, passa por um processo de eleição direta.
“Uma das coisas que se precisa recuperar no Brasil é a credibilidade da política. E a credibilidade na política está ligada, no fundo, no fundo, a um processo de eleições diretas. E tentar fazer com que as instituições se respeitem e que este país possa voltar a uma certa normalidade. É preciso distensionar o País”, afirmou.
Foto: Reprodução/Internet