ZFM, esquecida na imprensa brasileira, ganha prêmio do Financial Time

O modelo industrial do Amazonas obteve menção honrosa da publicação britânica FdI Magazine, entre as premiações das Zonas Francas Globais de 2021

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Ferreira Gabriel

Publicado em: 14/10/2021 às 21:15 | Atualizado em: 14/10/2021 às 23:33

No dia em que a imprensa nacional – o jornal Folha de São Paulo – publicou duas reportagens tentando manchar a imagem e o papel de indutor econômico e ambiental da Zona Franca de Manaus (ZFM), o polo industrial do Amazonas e de toda a Região Norte recebeu um prêmio internacional.

Nesta quinta-feira (14), a Zona Franca de Manaus obteve uma menção honrosa da FdI Magazine, do grupo Financial Times, entre as premiações das Zonas Francas Globais de 2021.

Anualmente, a publicação britânica fDi Intelligence realiza o prêmio Global Free Zones onde analisa as zonas francas de todo o mundo, identificando quais se destacaram por apresenta resultados expressivos no que se refere a perspectivas de investimento, expansão, capacidade produtiva, logística, dentre outros aspectos.

A Zona Franca de Manaus recebeu menção honrosa na categoria “ajustes logísticos” em decorrência dos avanços realizados nesta área ao longo dos últimos anos, dotando a ZFM de maior competitividade.

A Suframa, por ser uma zona franca associada à Associação de Zonas Francas das Américas (AZFA), é convidada anualmente a se inscrever na premiação, tendo recebido alguns prêmios ao longo dos últimos anos, sendo vencedora na categoria Grandes Empreendimentos da região da América Latina e do Caribe no ano de 2015.

Já no ano de 2017, foi premiada nas categorias “Melhor Zona das Américas – Grandes Inquilinos”, “Melhor Zona Franca para Sustentabilidade”, “Melhor Zona Franca para Expansão” e “Melhor Zona Franca para Novos Investimentos”.

Em 2018, foi premiada na categoria “Altamente recomendável para grandes empreendimentos das Américas”.

“Esse é o reconhecimento pelo mais acertado modelo de investimento, redução de desigualdades regionais, geração de renda e preservação ambiental que o mundo já viu”, diz o presidente do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (Cieam), Wilson Périco.

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“ZFM não levou progresso a Manaus”

Enquanto a indústria da Zona Franca de Manaus comemora o prêmio do Financial Time e a retomada dos negócios, após o período crítico da pandemia de covid-19, assim como os trabalhadores do polo industrial de Manaus se animam com o retorno dos empregos, a imprensa nacional, sempre contrária ao modelo econômico do Amazonas e da Região Norte, culpa a ZFM de acentuar a pobreza do país por conta dos seus benefícios fiscais.

O jornal Folha de São Paulo, que é o reflexo do pensamento industrial do maior e mais rico estado brasileiro, traz nesta quinta-feira duas reportagens com esse viés negativo da Zona Franca de Manaus.

A primeira, produzida na capital amazonense, vem com o título “Zona Franca não levou progresso para Manaus”. Diz que a ZFM foi criada no regime militar com a pretensão de levar desenvolvimento à região, com a instalação de um polo industrial baseado em subsídios federais às empresas que lá se instalassem, como contrapartida pela falta de infraestrutura da região, que eleva o custo de produção.

Segunda cidade com mais favelas

“Além de inflar a população de Manaus de 311 mil habitantes em 1970 para mais de 2,2 milhões em 2020, a ZFM não cumpriu o intento de sua criação.

Segundo o IBGE, Manaus é a segunda cidade do país com mais domicílios favelados, com 53,4% de suas residências em situação “subnormal”. Só fica atrás de Belém (55,5%). Mas o Amazonas lidera entre os estados, com 34,6% das casas nessas condições”, afirma o texto da Folha.

A reportagem diz ainda que a falta de investimentos em infraestrutura, a redução de subsídios e crises econômicas contribuíram para o fechamento de cerca de 45 mil postos de trabalho na ZFM na última década, aumentando a concorrência até para quem tem bom currículo.

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“Brasil gasta com áreas pouco eficientes”

Para tentar justificar o baixo crescimento da economia – causado principalmente pela pandemia – o aumento da miséria e a falta de investimentos em programas sociais, a segunda reportagem da Folha de São Paulo, na edição desta quinta-feira, culpa os incentivos fiscais, concedidos à indústria e os classifica como “pouco eficientes e concentradores de renda”.

“Estudo do Ministério da Economia mostrou que estados mais pobres como Maranhão, Piauí, Acre, Alagoas e Pará receberam menos de um terço da média nacional dos benefícios tributários per capita em 2018. Já Amazonas (por causa da Zona Franca de Manaus), Santa Catarina e
São Paulo se beneficiaram mais de renúncias tributárias do que contribuíram, proporcionalmente, para o crescimento do PIB”, diz a reportagem do jornal paulista.

Reação da indústria

Para o presidente do Cieam, Wilson Périco, as reportagens da Folha de São Paulo mostram um profundo desconhecimento com relação às questões sociais.

“Falar de favela, o que dizer do Rio de Janeiro, de São Paulo. Por terem favelas, são cidades falidas? Claro que não. A questão do estilo de moradia da nossa região advém do grande fluxo de pessoas que para cá vieram em busca de uma oportunidade na capital. No primeiro momento, sim, foi por causa da indústria, mas não se pode esquecer nem minimizar tudo aquilo que a indústria faz e gera riqueza na economia”, argumenta Périco.

O executivo industrial mostra que somente na capital Manaus, com 2,2 milhões de habitantes, um quarto da sua população (550 mil pessoas) tem renda gerada no polo industrial de Manaus.

São mais de 100 mil empregos diretos e 450 mil empregos indiretos. Portanto, essa matéria da Folha é tendenciosa, mal intencionada, maldosa e de uma ignorância, com profundo desconhecimento”, afirma.

Inovação e mão de obra

Wilson Périco cita ainda uma questão que as reportagens da Folha não abordam: a inovação tecnológica e a automação dos processos de manufatura que reduzem a manutenção de mão de obra.

“Esse é um fato que acontece em toda a atividade industrial no mundo e temos que pensar em como garantir a continuidade da geração de emprego que faz tanta diferença para nossa população. Isso se dará com a atração de novos investimentos e da diversificação da nossa matriz de produtos e das potencialidades econômicas e ambientais do nosso estado”, disse o executivo.

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Um dos maiores programas de desenvolvimento

O presidente do Cieam se colocou à disposição para debater com qualquer pessoa ou entidade, em qualquer lugar do país, sobre modelo Zona Franca, com seus erros e acertos.

Segundo ele, o estado do Amazonas tem gerado conteúdo tanto tributário quanto social, oriundos da ZFM. E este modelo é um dos maiores acertos entre os programas de desenvolvimento implementados pelo governo brasileiro.

Foto: Divulgação