Quando o Garantido chorou

"O boi-bumbá Garantido foi solene e singelo na homenagem da partida de sua sinhazinha". Leia, no artigo da antropóloga Dassuem Nogueira

29/05/2024 19:26

Por Dassuem Nogueira *

Nesses últimos dias, o mundo bovino está consternado pelo falecimento de Didja Cardoso, ex-sinhazinha do boi-bumbá Garantido, ocorrido no último dia 28.

A cena do boi Garantido performando a dor da perda sobre o caixão da sinhazinha é das mais comoventes e sensíveis que essa manifestação cultural pode fazer.

O boi de pano, afinal, é um brinquedo. Na prática, ele não existe. O boi não tem a pretensão de nos convencer de que ele é de verdade. Nada nele é ilusionista.

O boi representa o amor a um conjunto de valores compartilhados em uma comunidade cultural.
Ser Garantido significa algo. Ser Caprichoso significa outro conjunto de coisas.

A vida que anima o boi não vem do tripa que o movimenta. Ela vem de nós, dos sentidos que damos a ele.

E o significado que o boi tem nesses dias é o luto porque nisso estamos. O boi-bumbá Garantido foi solene e singelo na homenagem da partida de sua sinhazinha.

A sinhazinha é a que chora quando morre o boi de carne no auto. Hoje, o boi de pano foi quem chorou por sua sinhazinha.

*A autora é antropóloga.

Foto: divulgação/Garantido

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