Os boizinhos da ilha
As apresentações formam e empoderam as crianças, que se tornam um pĂºblico exigente.

Dassuem Nogueira, especial para o BNC Amazonas
Publicado em: 26/06/2023 Ă s 14:02 | Atualizado em: 26/06/2023 Ă s 15:31
Na noite do dia 25 de junho ocorreu a apresentaĂ§Ă£o dos bois-mirins de Parintins, carinhosamente chamados de boizinhos.
Boizinho, como categoria oficial, de fato, nĂ£o faria justiça com os bois Mineirinho, Estrelinha e Tupi. A brincadeira Ă© sĂ©ria!
As apresentações possuem comissĂ£o julgadora especializada, transmissĂ£o ao vivo, fiscalizaĂ§Ă£o pela documentaĂ§Ă£o das crianças e uma Ă©tica que exige que se apresentem vestidos, evitando sua precoce erotizaĂ§Ă£o.
Neste ano, por exemplo, o Mineirinho nĂ£o pĂ´de se apresentar por falhas na documentaĂ§Ă£o.
Os boizinhos ganharam um palco prĂ³prio neste festival, o anfiteatro Sila Marçal, na praça dos Bois, em frente ao bumbĂ³dromo.
O anfiteatro retangular permite que, nĂ£o somente os bois, mas as quadrilhas e danças tenham um formato de cena que valoriza mais suas apresentações.
Diferentemente do bumbĂ³dromo, com sua arena oval, que lhes exigiria mais.
O pĂºblico presente na nova arquibancada era, predominantemente, formado por famĂlias que levaram suas crianças para ver os seus amiguinhos e parentes.
Os itens dos boizinhos, alguns com sobrenomes bovinos famosos, tambĂ©m possuem suas torcidas e fĂ£s. SĂ£o aclamados com pulinhos e palmas das pequenas mĂ£ozinhas.
A presença e a vez das crianças fortalecem o espetĂ¡culo dos bois como um valor cultural. Diante da apoteose da grande disputa entre Garantido e Caprichoso Ă© fĂ¡cil esquecer a sua dimensĂ£o lĂºdica. Mas, ao final, Ă© sobre brincar. No caso dos boizinhos, brincar de boi de arena.
É preciso destacar ainda a potĂªncia formadora das apresentações para os pequenos. O boi-mirim Tupi defendeu o item “Toada, letra e mĂºsica” com a composiĂ§Ă£o “Lamento pela vida dos povos indĂgenas”, com espaço para a traduĂ§Ă£o em libras feita pelas crianças.
Se seguirĂ£o ou nĂ£o na cena bovina, as crianças envolvidas pelos bois-mirins jĂ¡ crescem e, no mĂnimo, serĂ£o um pĂºblico mais exigente.
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Ainda mais pela formaĂ§Ă£o do sentimento de pertencimento a outros territĂ³rios sociais e simbĂ³licos na ilha. Por exemplo, o Tupi, “Todos unidos pelo ItaĂºna”, exalta a nova periferia de Parintins, representada nessa agremiaĂ§Ă£o pelos bairros ItaĂºna e Paulo Correia.
Esses novos bairros nĂ£o sĂ£o alcançados pela famosa dicotomia entre baixa do SĂ£o JosĂ© e Francesa, redutos de Garantido e Caprichoso respectivamente.
Porém, reivindicam seu lugar.
Foto: Dassuem Nogueira/especial para o BNC Amazonas