SOCIEDADE ALIENADA

Vivem a criticar a conjuntura socioeconรดmica, veem a continuidade das crises, sofrem as consequรชncias, mas nรฃo reservam o menor tempo na consideraรงรฃo de suas origens

Lei de Diretrizes Orรงamentรกrias

Diamantino Junior

Publicado em: 03/12/2022 ร s 19:38 | Atualizado em: 03/12/2022 ร s 19:56

Costumo repetir que, civicamente, somos uma sociedade alienada. Em mรฉdia, nรฃo costumo encontrar pessoas, mesmo entre os bons amigos com que convivo, que, alรฉm de conhecerem seus direitos de cidadรฃos, preocupam-se com a melhoria da realidade institucional do Paรญs.

Vivem a criticar a conjuntura socioeconรดmica, veem a continuidade das crises, sofrem as consequรชncias, mas nรฃo reservam o menor tempo na consideraรงรฃo de suas origens. Se existem fatores conjunturais a fomenta-las.

Ficou fรกcil botar a culpar nos polรญticos e nos responsรกveis pela administraรงรฃo, dificultando a formaรงรฃo de รขnimo para as soluรงรตes inovadoras; fertilizantes.

Para que perder tempo pensando em opรงรตes institucionais se as respectivas dinรขmicas ficam sempre nas mรฃos de polรญticos, que nรฃo prestam? Acredito que esse raciocรญnio equivocado povoa a inteligรชncia de muita gente; da maioria mesmo.

Sรณ nรฃo consigo entender o motivo pelo qual nรฃo se questiona o fato e nรฃo ocorrer melhoria com o rodรญzio de polรญticos no comando da mรกquina administrativa, quando se sabe que a maioria deles goza de bom conceito no exercรญcio de outras atividades.

Entendo que essa circunstรขncia sozinha jรก deveria ser suficiente para induzir os questionamentos que vivo a fazer. Nรฃo ignoro que o universo da vida pรบblica brasileira enfrenta longa entressafra de estadistas, sobretudo na รณrbita do Legislativo.

Certamente, pelo que se ouve e se lรช, inรบmeros parlamentares nรฃo sรฃo sacerdotes do interesse comum, como deveriam ser, mas aproveitadores de oportunidades, espรฉcie de erva daninha no canteiro da vida pรบblica.

Mas o nรบmero de espรญritos bem formados, patriotas, com vocaรงรฃo para a defesa do interesse social, dentro do Congresso Nacional, nรฃo รฉ nada desprezรญvel. ร‰ bem maior do que se pensa.

Sรณ que terminam condenados ao imobilismo pela mecรขnica inibidora, deformada, da realidade institucional do Brasil.

Para piorar, no centro desse aumento de luz, a imprensa, que รฉ a matriz geradora dos sinais de orientaรงรฃo nas sociedades democrรกticas, tambรฉm anda a padecer no Paรญs de insuficiรชncia de visรฃo. Em razรฃo de uma patologia menor, fรกcil de ser vencida atรฉ pelos anticorpos naturais do seu organismo de vocaรงรฃo norteadora da melhor consciรชncia social, anda dando prioridade de espaรงo apenas aos assuntos de evidรชncia ostensiva, ร s matรฉrias tendentes a sensibilizar o sensacionalismo, ร s crรญticas menores da intriga.

Essas รบltimas tรญpicas do mau jornalismo, de profissionais que procuram crescer aproveitando-se da indignaรงรฃo de um povo sofrido, sem nenhum respeito ร  ordem รฉtica. Em consequรชncia, a mรญdia costuma ignorar fatos importantes para o interesse comum, que nรฃo ecoam no vรกcuo da ignorรขncia, deixando de cumprir o dever de orientar.

A propรณsito, o Judiciรกrio acaba de dar um exemplo de como fazer ativismo judicial. Um Ministro amigo do deputado Silas Cรขmara, pediu vista para que seu processo jรก rolando hรก dez anos, prescrevesse.

No penรบltimo dia, outro Ministro, achando que poderia melhorar a situaรงรฃo, quebra uma regra de que um processo em julgamento nรฃo pode ter multa arbitrada, mas foi o que fez o Ministro Barroso, tornando o rรฉu sem nenhum problema com a justiรงa pagando uma multa por ter se apropriado do dinheiro de seus funcionรกrios.

A imprensa deixou o fato passar em branco, a nรฃo ser uma noticia aqui e ali, mas sem ter a รชnfase necessรกria para que houvesse uma desalienaรงรฃo do povo, senรฃo no momento, mas nรฃo elegendo  o Deputado nem para Sindico de seu prรฉdio, pois poderia se apropriar dos salรกrios dos seus pobres funcionรกrios. ร‰ uma vergonha para o paรญs.

Foto: Rodolfo Stuckert/CNJ

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