Acampamento era ‘verdadeira mini-cidade golpista e terrorista’

Os golpistas também tinham acesso a banho quente e restaurantes em que as refeições eram servidas sem custos aos acampados.

Diamantino Junior

Publicado em: 28/01/2023 às 16:19 | Atualizado em: 28/01/2023 às 16:19

Imagens do relatório do interventor do Distrito Federal, Ricardo Capelli, apresentado nesta sexta-feira (27/1) ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), mostram detalhes inéditos do funcionamento do acampamento que serviu de base para as manifestações golpistas do dia 8 de janeiro, em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília.

A estrutura do local contava com itens como painéis solares para fornecer energia e rede de internet Wi-Fi. Nas palavras de Capelli, tratava-se de uma “verdadeira mini-cidade golpista e terrorista”. O acampamento foi desmontado no dia 9 de janeiro, um dias após os atos golpistas.

Uma das imagens mostra um gerador de energia instalado em cima de uma caminhonete, enquanto outra revela uma estação de carregamento de celulares funcionando a todo vapor.

Os golpistas também tinham acesso a banho quente e restaurantes em que as refeições eram servidas sem custos aos acampados.

“Haviam estruturas montadas para apoio de refeições e carro de som para disseminação de informações e coordenação dos manifestantes, evidenciando que o acampamento, desde sua instalação, foi elemento crucial para o desenvolvimento das ações de perturbação da ordem pública que culminaram nos atos do dia 08 de janeiro de 2023”, diz trecho do relatório.

O documento destaca que o acampamento contava com uma “complexa e engenhosa” organização. A distribuição das tendas era feita em setores específicos, da cozinha e despensa, passando pela tenda de atendimento médico e fornecimento de energia por geradores. “Havia acesso à internet, informações, local para realização de cultos religiosos e diversas outras organizações internas”, diz o documento assinado pelo interventor.

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Uma delas é quem eram os financiadores e os agentes públicos que ajudaram a manter a estrutura, que começou a ser montada na semana seguinte à eleição, ainda em novembro do ano passado.

As imagens mostram imensas cozinhas coletivas, fileiras de banheiros químicos e até uma central de doações que também funcionava como achados e perdidos. “Constatou-se no acampamento diversos pedidos de doações, especialmente financeiras, as quais seriam destinadas ao pagamento de estruturas tais como tendas, banheiros químicos, carros de som, alimentação, dentre outros”, acrescenta o relatório.

O relatório

No relatório apresentado a Moraes, o interventor federal na segurança pública do Distrito Federal apontou as provas de que houve “falha operacional” na atuação das forças policiais no dia 8 de janeiro. Segundo ele, o documento também revela a ação “programada” de “profissionais treinados” na invasão às sedes dos Três Poderes da República em 8 de janeiro.

Um dos trechos mostra que, dois dias antes dos atos golpistas em Brasília, a Secretaria de Estado de Segurança do Distrito Federal, então comandada por Anderson Torres, ex-ministro do governo de Jair Bolsonaro, recebeu um relatório de inteligência apontando risco de invasão do Poder Legislativo em 8 de janeiro.

“As divulgações apresentam-se de forma alarmante, dada a afirmação de que a “tomada de poder” ocorreria, principalmente, com a invasão do Congresso Nacional”, segundo trecho do documento.

O relatório de inteligência produzido no dia 6 de janeiro também indica que entre os golpistas havia “adultos em boa condição física” e “Colecionadores, Atiradores e Caçadores (CACs)” que faziam postagens ameaçando “sitiar Brasília”.

O que tinha no acampamento golpista descrita no relatório do interventor:

Barracas de camping e de lona;

Tendas;

Cozinhas coletivas;

Banheiros químicos;

Banheiros com chuveiro quente;

Geradores de energia;

Placas solares;

Som mecânico;

Caminhão utilizado como palco;Carro de som (trio elétrico).

Leia mais na matéria de Patrik Camporez, no portal do jornal O Globo

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