Corais da Amazônia na mira da exploração de petróleo

Com espécies que ainda nem tiveram a oportunidade de serem estudadas, a formação está na mira da exploração de petróleo

Publicado em: 29/09/2022 às 11:27 | Atualizado em: 29/09/2022 às 11:31

Em matéria publicada no site do jornal Folha de S.Paulo, a jornalista Rosiene Carvalho traz um panorama dos males ambientais que atingem o estado vizinho Amapá. Desde os problemas gerados pela construção de três hidrelétricas, que não resolveram o problema do fornecimento de energia dos amapaenses, passando pelo garimpo ilegal que contamina os rios usados até um novo problema ambiental em uma região recém descoberta: os chamados corais da Amazônia, que está na mira da exploração de petróleo.

Leia um trecho da reportagem

Distante do arco por onde avança a degradação da floresta e com todas as terras indígenas demarcadas, o Amapá é o estado brasileiro da Amazônia Legal com os menores índices de derrubada irregular de árvores e focos de incêndios, de acordo com relatórios do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e do MapBiomas.

Também o estado de menor extensão territorial do bioma amazônico, o Amapá tem um ecossistema peculiar.

Ele inclui a foz do rio Amazonas, uma parte do cerrado, manguezais e integra um sistema recifal recém-descoberto e único no planeta, chamado de corais da Amazônia.

No entanto, a pobreza, a atrofia dos órgãos indigenistas e ambientais e a pressão de interesses econômicos — problemas comuns a toda a Amazônia — não permitem que o estado seja considerado um modelo para os demais.

Impactos gerados por hidrelétricas e contaminação de mercúrio em rios usados por indígenas estão no centro das questões ambientais e sociais do estado.

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Há denúncias, por parte do Ministério Público Federal e Ministério Público do Estado do Amapá, de danos gerados pela construção das usinas de Cachoeira Caldeirão, Ferreira Gomes e Coaracy Nunes, na bacia do rio Araguari, o principal do estado.

O padre Sisto Magro, que faz parte da coordenação colegiada da Pastoral da Terra do Amapá e vive há 32 anos no estado, lamenta que as obras, além de não impedirem a crise energética, não garantiram nem luz nas comunidades atingidas pelas barragens.

Em 2020, o Amapá passou por um apagão de 22 dias.

“Muitas pessoas tiveram de vender suas propriedades. A gente que convive com elas sabe que estão passando fome. O Judiciário não faz sua parte para as compensações devidas”, afirma o padre Sisto.

Moroni Pascale, 60, professor e coordenador do Movimento dos Atingidos por Barragens do Amapá relata que a reprodução de peixes foi afetada, roças foram alagadas e famílias que viviam da agricultura e da produção de farinha perderam suas atividades.

Moroni e o padre Sisto destacam que a alteração no fenômeno natural chamado pororoca — impacto causado pelo encontro de águas fluviais e oceânicas — se intensificou após a construção das hidrelétricas.

O rio Araguari, que antes desaguava no Atlântico, passou a ter a sua foz no rio Amazonas. O caso é considerado um dos maiores acidentes ambientais do Amapá.

No caminho do novo curso do rio, moradores de comunidades do arquipélago do Bailique sofrem com riscos de desmoronamento. Até o momento não há pesquisas que apontem a responsabilidade das hidrelétricas.

Leia mais na matéria de Rosiene Carvalho publicada no site do jornal Folha de S.Paulo

Foto: Ronaldo F.F./Greenpeace