AmazĂ´nia perde seu maior porta-voz mundial, Tom Lovejoy

Durante décadas, levou ao seu posto de pesquisa na floresta personalidades dos EUA e de outros países para excursões que incluíam a passagem da noite de ano novo

AmazĂ´nia perde seu maior porta-voz mundial, Tom Lovejoy

Publicado em: 26/12/2021 Ă s 16:27 | Atualizado em: 27/12/2021 Ă s 15:58

Com a morte de Tom Lovejoy, o Brasil perde um de seus melhores amigos. Ao longo de 57 anos, grande parte de sua vida foi dedicada à pesquisa e à defesa da Amazônia brasileira, da qual se tornou proeminente porta-voz mundial. Lovejoy morreu no dia de Natal, aos 80 anos, em Washington.

Durante décadas, levou ao seu posto de pesquisa na floresta personalidades dos EUA e de outros países para excursões que incluíam a passagem da noite de ano novo. Em Washington, ser convidado para uma delas era considerado uma honra entre celebridades.

Para muitas delas, como Al Gore, na Ă©poca senador, depois vice-presidente americano e prĂªmio Nobel da Paz, a experiĂªncia foi como uma epifania. Grandes jornalistas, atores de cinema, polĂ­ticos, autoridades e diplomatas refizeram suas ideias sobre o meio ambiente apĂ³s essas visitas promovidas por Lovejoy.

Em sua casa do sĂ©culo 18 em VirgĂ­nia, perto de Washington, realizava reuniões com polĂ­ticos, ambientalistas, acadĂªmicos brasileiros e americanos para discutir os rumos do Brasil, em especial no campo da ecologia.

Respeitado como um dos mais importantes cientistas na Ă¡rea da biologia (em 2012 recebeu o prĂªmio Blue Planet, considerado equivalente ao Nobel na Ă¡rea do meio ambiente), cunhou o conceito de biodiversidade e foi um dos primeiros a defender a ideia do uso de crĂ©ditos de carbono para proteger florestas.

TĂ£o relevante (ou mais) que seu trabalho acadĂªmico, foi o que realizou como divulgador da causa conservacionista. Durante 14 anos nas dĂ©cadas de 1970 e 1980, ajudou a transformar o World Wildlife Fund numa das mais importantes entidades de seu tipo no mundo.

Foi conselheiro para temas ambientais dos presidentes Ronald Reagan, George H. Bush e Bill Clinton, e assessorou informalmente os presidentes Barack Obama e Joe Biden. Foi um dos criadores da sĂ©rie de programas “Nature” na televisĂ£o pĂºblica americana, colaborava com a revista National Geographic.

Trabalhou no Banco Mundial, no Banco Interamericano de Desenvolvimento, na FundaĂ§Ă£o das Nações Unidas, sempre para ajudar essas instituições a tomar decisões sobre assuntos ambientais.

Era tĂ£o presente nas publicações acadĂªmicas como nas de interesse geral. No Brasil, o veĂ­culo em que mais teve artigos editados foi esta Folha (o Ăºltimo, intitulado “Reflorestar a AmazĂ´nia“, em coautoria com AndrĂ© GuimarĂ£es, diretor do Ipam, saiu em 16 de setembro Ăºltimo).

Seu mais recente artigo cientĂ­fico de relevo tambĂ©m foi escrito em parceria com um brasileiro, Carlos Nobre, do Inpa, na revista “Science Advances”, em fevereiro de 2018, sob o tĂ­tulo “Amazon Tipping Point”, e dele consta o alerta de que o desmatamento na AmazĂ´nia estĂ¡ prĂ³ximo de atingir o ponto de nĂ£o retorno se medidas drĂ¡sticas e urgentes nĂ£o forem tomadas para detĂª-lo.

Em agosto deste ano, Lovejoy informou a amigos que havia sido diagnosticado com cĂ¢ncer no pĂ¢ncreas, mas que segundo seu oncologista era de um tipo que podia ser tratado com hormĂ´nios e que ele ainda tinha “muitos anos pela frente”.

“Estou bem, com 90% de minha energia normal e ocupado como sempre”, ele dizia no fim da mensagem. De fato, produziu muito nos meses seguintes. Terminou um livro ainda nĂ£o editado (“Ever Green: Saving Big Forests to Save the Planet”), com John Reid, economista da ONG Nia Tero, que ajuda grupos indĂ­genas a proteger e explorar de modo sustentĂ¡vel seus territĂ³rios”.

Em 2 de novembro, o “New York Times” publicou com destaque artigo de Lovejoy e Reid com o tĂ­tulo “The Road to Climate Recovery Goes Through the Wild Woods”.

Leia mais na Folha

Foto: Pixabay