Na primeira entrevista que concedeu após sua prisão há um ano, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), chorou, revelou ressentimentos com o ex-juiz Sérgio Moro e com o procurador Deltan Dallagnol, chamou a reforma da Previdência de obsessão de Paulo Guedes de destruir a soberania nacional às custas dos aposentados e disse que o país está sendo governado por um “bando de malucos”.
Ele fez esse comentário ao ser abordado sobre autocrítica:
“Imagina se todo mundo nesse Brasil fizesse uma autocrítica. A elite brasileira deveria estar fazendo agora uma autocritica. ‘Puxa vida, como é que a gente ganhou tanto dinheiro no Governo do Lula? Como é que o povo pobre vivia tão bem? Como é que o povo pobre estava viajando pro Piauí, pra Sergipe, pra Garanhuns, e agora nem de ônibus pode viajar?’. Vamos fazer uma autocrítica pelo que aconteceu em 2018 naquela eleição. O que não se pode é esse país estar governado por esse bando de malucos que governa o país”.
A entrevista, após sete meses de censura no Supremo Tribunal Federal, foi feita nesta sexta-feira, dia 26, pelos jornais Folha de S. Paulo e El País, da Espanha, em uma sala preparada pela Polícia Federal na sede do órgão em Curitiba, onde ele está preso.
O jornal paulista, em seu site, publicou a matéria explorando a fala de Lula sobre o “bando de malucos”.
Já El País destacou três frases ditas pelo ex-presidente:
“O inimigo central do Bolsonaro, além do PT, é o seu vice-presidente”
“Fico preso cem anos. Mas não troco minha dignidade pela minha liberdade”
“Eu já vivi 73 anos, eu poderia ter morrido e deixado meu neto viver”
Sobre o ministro da Economia, Paulo Guedes, Lula fez o seguinte comentário.
“Se eles lessem alguma coisa, se eles conversassem, eles saberiam que esse cidadão aqui semianalfabeto, quarto ano primário, curso de torneiro mecânico, juntou trezentos e setenta bilhões de dólares de reservas [internacionais] que a 4 reais o dólar dá mais de um trilhão e duzentos sem causar nenhum prejuízo a nenhum brasileiro. Se eles querem juntar um trilhão tem uma fórmula secreta: coloque o povo no Orçamento da União. Segundo, gere emprego. Terceiro: gere crédito pra pessoas. ‘Ah , mas o povo tá devendo? Tá.’ Tire o penduricalho da dívida do povo e ele paga apenas o principal no banco e você vai perceber que as pessoas voltam a poder comprar. Um país que não gera emprego, não gera salário, não gera renda, quer pegar dos aposentados, dos velhinhos, um trilhão? O Guedes precisava criar vergonha”.
Sobre Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, ele falou de obsessão:
“Eu tenho tanta obsessão de desmascarar o [Sergio] Moro, em desmascarar o [Deltan] Dallagnol e a sua turma e aqueles que me condenaram, que eu ficarei preso cem anos, mas eu não trocarei a minha dignidade pela minha liberdade. Eu quero provar a farsa montada. Eu quero provar. Montada aqui dentro, no departamento de Justiça dos Estados Unidos com depoimento de procuradores com filme gravado e agora mais agravado com a criação da Fundação Criança Esperança do Dallagnol, pegando 2,5 bilhões de reais da Petrobras para criar uma fundação para ele”.
Perguntado acerca do governo Bolsonaro, Lula respondeu:
“Eu não esperava que o [presidente Jair] Bolsonaro fosse resolver o problema do Brasil em quatro meses. Só propõe fazer análise de cem dias quem nunca governou, quem acha que em cem dias pode apresentar alguma coisa, ele realmente não aprendeu a sentar a bunda na cadeira. E depois, com a família que ele tem, com a loucura que tem… O inimigo central dele, além o PT, é o vice. Quer dizer, é uma loucura. Ele passa a agredir os deputados, depois tenta agradar os deputados, diz que está fazendo a nova política, e ele faz a mesma, porque ele é um velho político. O país está subordinado à ingovernabilidade. Ele até agora não sabe o que fazer, e quem dita regras é o Guedes”.
Foto: Reprodução/El País