O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) mentiu, na live de ontem (26), ao associar a alta na inflação a medidas de restrição adotadas por prefeitos e governadores para conter a covid-19.
Conforme reportagem do UOL, o avanço nos preços tem a ver com a política da Petrobras para combustíveis, a valorização do dólar, a alta na conta de luz por conta da crise hídrica e as ondas de frio que prejudicaram a produção de alimentos.
Segundo site de notícias, Bolsonaro também distorceu os índices de vacinação no Brasil.
Ele afirmou que o país passou os EUA em número de adultos vacinados, omitindo que o país da América do Norte tem uma fatia bem maior de sua população totalmente imunizada.
O presidente ainda deu uma declaração insustentável sobre o suposto impacto na agricultura decorrente do julgamento do “marco temporal” para a demarcação de terras indígenas.
Inflação
“Essa inflação vem, em grande parte, daquela política lá atrás: ‘fica em casa, a economia a gente vê depois’.”, disse o presidente em live.
Segundo a reportagem, a declaração do presidente é FALSA.
De acordo com especialistas ouvidos pelo UOL Economia, a alta nos preços não tem relação com as medidas de restrição para conter o coronavírus.
A aceleração da inflação tem uma série de causas. Há uma quebra da infraestrutura logística no mundo todo, desde o início da pandemia.
Dessa forma, isso fez com que alguns produtos essenciais ficassem escassos, o que aumentou os preços, segundo Paulo Dutra, coordenador do curso de economia da Faap (Fundação Armando Alvares Penteado).
Além disso, o dólar subiu de maneira considerável, fazendo com que os produtos importados e insumos lá de fora necessários para produção aqui no Brasil também sofressem fortes altas.
O dólar comercial se valorizou quase 30% em 2020 e acumula alta de 1,31% neste ano.
Outros fatores
Há também fatores que vêm surgindo nos últimos meses, como a crise hídrica, que encarece a conta de luz no país todo.
Neste ano, a conta de luz residencial já subiu 16%, e deve subir mais.
Outro fator foram as ondas de frio deste inverno, que prejudicaram a produção de alimentos e fizeram com que os preços disparassem.
Mais um elemento responsável por puxar a inflação foi o combustível, que teve alta porque a Petrobras optou por seguir os preços internacionais do petróleo.
“O que eu falei é que, nas refinarias, a gasolina está barata. Tem imposto federal, R$ 0,74, mas no final da linha tá chegando a R$ 7,00. Aí tem o frete, a margem de lucro dos postos e o grande mistério, que é o ICMS. O ICMS é um percentual que os governadores cobram em cima do preço final da bomba e não em cima da origem, como deveria ter sido feito.”, disse Bolsonaro.
Bolsonaro omite que cerca de um terço do preço da gasolina cabe à Petrobras, e que o valor do combustível na refinaria acumula alta de 51% em 2021.
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Estado para estado
A alíquota do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) varia de estado para estado, mas não é cobrada sobre o “preço final da bomba”, e sim sobre uma média dos valores cobrados nos postos chamada de PMPF (Preço Médio Ponderado ao Consumidor Final).
Este preço é definido por um órgão do próprio governo federal, o Confaz (Conselho Nacional de Política Fazendária). O conselho é presidido pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e conta com os secretários da Fazenda dos estados brasileiros, entre outros integrantes.
Especialistas ouvidos pelo UOL Economia em maio afirmaram que o ICMS não é o maior “vilão” dos preços altos nas bombas.
As alíquotas não são reajustadas há anos, e as variações na gasolina ocorrem principalmente porque a Petrobras passou a atrelar seus preços ao mercado internacional de petróleo e ao dólar.
“A mesma coisa tenho falado do gás de cozinha, arredondando pra cima, um botijão de 13kg tá caro, tá custando R$ 50 lá onde é engarrafado. na ponta da linha tá chegando a R$ 130. O que eu fiz pra diminuir o preço do gás de cozinha? Zerei os impostos do gás de cozinha. (…) O que pesa aí? ICMS, que é imposto estadual, frete e a margem de lucro na ponta da linha.”, argumenta o presidente.
A declaração é DISTORCIDA e, assim como no caso da gasolina, repete desinformação dita em outras ocasiões pelo presidente.
Corte
O corte promovido por sua gestão desonerou a cadeia em apenas R$ 2,18, o que representa 2,3% do preço médio no país do GLP (Gás Liquefeito de Petróleo), conhecido como gás de cozinha, como mostrou checagem do Projeto Comprova em junho.
O desconto do governo acabou absorvido pelos outros fatores que compõem o preço do gás de cozinha, principalmente pelos reajustes nas refinarias da Petrobras.
Hoje, 48,2% do valor final corresponde ao preço da Petrobras e 37%, à distribuição e revenda. O produto tem sofrido sucessivos aumentos em 2021.
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Foto: Reprodução/YouTube/Jair Bolsonaro