A ‘trumpista’, Bolsonaro nega vacina da covid e ignora mortes no Javari
Falando a americanos, ele afirmou que muitos brasileiros é que não querem se vacinar

Ferreira Gabriel
Publicado em: 01/07/2022 às 10:23 | Atualizado em: 01/07/2022 às 10:23
O presidente Jair Bolsonaro concedeu entrevista a emissora norte-americana Fox News, ao jornalista “trumpista” Tucker Carlson.
Ele apresentou Bolsonaro como um político antissistema bem-sucedido, apesar de uma suposta “coalizão de bilionários, professores universitários e veículos de mídia” que teria tentado impedir sua eleição em 2018.
Em resposta, o presidente citou a facada sofrida durante a campanha eleitoral daquele ano, minimizou o racismo no Brasil e criticou a obrigatoriedade da vacinação contra a covid-19 no país. Além disso, ele não falou sobre os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips, no Vale do Javari.
Bolsonaro afirmou ainda, sem apresentar provas, que pesquisas de intenção de voto, que o mostram atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), visam a manipular a opinião pública.
A estratégia é semelhante à usada pelo ex-presidente do EUA Donald Trump a fim de desacreditar o sistema eleitoral e estimular apoiadores radicais a atacarem jornalistas, instituições democráticas e opositores.
Bolsonaro minimiza racismo no Brasil
Na avaliação de Bolsonaro, a esquerda busca dividir o país por meio de políticas identitárias e discursos sobre classe social: “Mesmo antes de Lula tomar o poder, em 2003, a esquerda já pregava uma disputa de negros contra brancos, nordestinos e sulistas, e trabalhadores versus empresários. A esquerda ganhou seguidores graças a essa abordagem”, disse.
Bolsonaro minimizou a incidência de racismo no Brasil e justificou-se, apontando que seu sogro é negro: “Eu sou um branco de olhos azuis. Racismo existe no Brasil, mas não como é frequentemente descrito. A maioria dos nossos jogadores de futebol é de afrodescendentes e ninguém vê isso como um problema”, disse.
Falou sobre Amazônia, sem citar Bruno e Dom
O presidente da República, durante a entrevista a Tucker Carlson, também minimizou críticas que recebe de artistas e governantes internacionais sobre a gestão do desmatamento na floresta amazônica: “Não dependemos do interesse internacional em preservar a Amazônia. É de nosso próprio interesse e, é claro, queremos que esses esforços de preservação sejam recompensados de alguma forma, por meios como créditos de carbono”.
Segundo ele, o uso de mais tecnologia ajudará a monitorar e proteger a região, que passa pelo agravamento de indicadores ambientais no governo Bolsonaro (PL). O desmatamento na região em 2021 foi o pior dos últimos 15 anos.
O presidente, no entanto, não falou —nem foi questionado— sobre o desaparecimento e a morte do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, que foram sequestrados no início deste mês e assassinados após se deslocarem de barco pelo rio Itaquaí após visita à Terra Indígena do Vale do Javari (Amazonas), território que alvo de invasão por caçadores, pescadores e madeireiros ilegais.
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Suspeitos repetem passo a passo da execução de Bruno e Dom no AM
Reprodução/Twitter/Jair Bolsonaro