O Brasil chegou às 70 mil mortes por covid-19 notificadas pelo Ministério da Saúde no dia 10 de julho. Este marco, no entanto, pode ter sido atingido muitos dias antes.
A causa é a diferença entre a data em que a morte aconteceu e o dia em que ela foi anunciada oficialmente.
Ao comparar dados dos registros de ocorrências das mortes com as notificações feitas pelo ministério e pelas secretarias da saúde estaduais e municipais, o UOL descobriu que os marcos de óbitos estão sendo divulgados pelo governo com pelo menos 10 mil mortes de atraso.
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Os dados oficiais são apurados pelas autoridades de saúde locais e consolidados por Brasília em nível nacional.
Ministério divulgou dado defasado
Por exemplo, em 21 de maio, quando o ministério anunciou que o Brasil tinha 20 mil óbitos por covid-19, na prática, o país já tinha chegado aos 30 mil mortos pelo novo coronavírus.
O motivo? Demora para inclusão no sistema nacional, atraso de resultados laboratoriais confirmando coronavírus, falta de equipamentos, entre outros.
Nos casos mais extremos, a janela entre a data em que o óbito ocorreu e a notificação pode se aproximar de quatro meses.
Especialistas ouvidos pelo UOL apontam que o sistema de notificações adotado pela pasta é o mais adequado dentro das possibilidades atuais, mas destacam que a subnotificação atrapalha no combate à doença e que o governo poderia coordenar melhor a organização destes dados.
Estados sobrecarregados
A demora pode ser ainda maior em estados que tiveram sobrecargas em seus sistemas de saúde e acabaram ficando com exames pendentes.
Em Pernambuco, por exemplo, o boletim da última quinta (16) apontou que, entre as 67 mortes registradas em 24 horas, uma ocorreu em 24 de abril — quase três meses antes.
Uma das explicações para esse atraso pode estar no período inicial da pandemia, quando havia uma grande deficiência de insumos para a testagem.
“Nós não chegamos a parar de fazer exames aqui, mas algumas vezes ficamos bem perto disso. Houve um problema imenso com a chegada dos insumos”, conta Felipe Naveca, pesquisador na área de virologia da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) Amazônia.
“Nós tiramos recursos para comprar, mas os fornecedores não tinham para vender, por conta da alta demanda, em especial fora do país. Como grande parte desses insumos é importado, seja como produto acabado, seja como matéria-prima, isso foi um problema sério”, afirma Naveca.
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Foto: Márcio James/Semcom