Corrupção: denúncias sacodem Argentina e abalam governo Milei

Áudios comprometem círculo íntimo do presidente argentino, como sua irmã, suspeita de receber propina

Da Redação do BNC Amazonas

Publicado em: 26/08/2025 às 08:48 | Atualizado em: 26/08/2025 às 08:48

Em uma movimentação incomum, o presidente Javier Milei optou pelo silêncio desde que seu governo foi atingido por um escândalo envolvendo gravações que mencionam sua irmã, Karina Milei, em um suposto esquema de pagamento de propina na compra de medicamentos. 

Sua irmã Karina é figura central na coordenação política de seu governo.

As gravações atribuem as falas a Diego Spagnuolo, ex-chefe da Agência Nacional da Pessoa com Deficiência (Andis) e advogado pessoal de Milei.

Segundo esses áudios, existia um sistema de propinas de até 8% sobre contratos farmacêuticos, dos quais Karina teria recebido cerca de 3%, equivalendo a algo entre US$ 500 mil e US$ 800 mil por mês. 

Também são citados o assessor Eduardo “Lule” Menem e a empresa Suizo Argentina, supostamente intermediária do esquema.

Milei é considerado o Bolsonaro da Argentina no aspecto ideológico. Seu governo é de direita ultraliberal, defensor do liberalismo econômico radical, com pautas como redução drástica do Estado, privatizações e corte de gastos públicos em programas sociais.

Como Bolsonaro, faz discurso explosivo, de ataques à “velha política” e antidemocráticos e vive em conflito com a imprensa e os opositores ao seu governo. E é subserviente ao presidente dos Estados Unidos, tal qual seu amigo brasileiro.

Reação da Justiça e governo

Após a divulgação, Spagnuolo foi removido do cargo sob justificativa oficial de “medida preventiva”, e o governo anunciou uma intervenção na Andis e abertura de auditoria. 

A Justiça promoveu 14 a 16 mandados de busca e apreensão, incluindo a sede da Andis, propriedades do ex-chefe da agência e da distribuidora Suizo Argentina. Foram apreendidos celulares, documentos, computadores e valores em dinheiro.

O governo não afirmou a autenticidade dos áudios e nem se pronunciou publicamente, enquanto o ambiente político se mostra cada vez mais tenso em meio à proximidade das eleições legislativas de outubro.

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Impacto político e econômico

Repercussão negativa também alcançou os mercados: os títulos argentinos em dólares caíram a níveis mais baixos em mais de quatro meses, e houve desvalorização significativa do peso, além da queda no índice de ações local.

Políticos de oposição exigem investigação por parte do Ministério da Saúde, órgão responsável pela Andis. 

Analistas alertam que o escândalo pode comprometer a confiança de investidores, colocar em risco as reformas econômicas de Milei e fragilizar sua posição antes das eleições legislativas. 

O escândalo

– O caso ocorre em meio a outras controvérsias que já haviam atingido Milei, como o colapso da criptomoeda $Libra, promovida por ele, e acusações de contrabando envolvendo figuras próximas ao governo.

– A divulgação dos áudios também coincide com um revés legislativo: o Congresso derrubou o veto presidencial a um aumento dos benefícios para pessoas com deficiência — um duro golpe para suas políticas de austeridade.

– O objetivo da oposição é evidente: usar o escândalo para reverter vetos e paralisar a agenda liberal de Milei.

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil