Crime organizado cresceu na covid, perdeu líderes e causou atentados
Irmão de Dadinho, conhecido como Ton, teria conclamado os “soldados” da facção a revidar à morte do irmão em Manaus, conforme investigações

Aguinaldo Rodrigues
Publicado em: 09/06/2021 às 18:40 | Atualizado em: 09/06/2021 às 18:45
O crime organizado só se fortaleceu em Manaus ao tempo em que a capital do Amazonas vivia dias de caos com duas ondas arrasadoras de covid (coronavírus) em 2020 e no início de 2021. Na semana passada, ao perder um dos seus líderes, uma facção reagiu contra as autoridades e causaram vários atentados na cidade.
Nos últimos anos, conforme reportagem da Veja, Manaus, com mais de 2 milhões de habitantes, virou um entreposto do crime organizado na rota do narcotráfico internacional.
Numa batalha por territórios que se arrasta desde 2019, reporta-se a Veja, o Comando Vermelho acabou superando o Primeiro Comando da Capital (PCC), que tentou se instalar na região, e a facção local Família do Norte, que praticamente foi riscada do mapa.
Com a consolidação do seu domínio, a organização criminosa nascida no Rio de Janeiro passou a entrar na mira da inteligência das polícias Civil e Federal e do sistema penitenciário.
Atentados
Os ataques em série ocorridos nos últimos dias a ônibus, ambulâncias, viaturas, delegacias e hospitais, com tiros e fogo, seriam uma forma de o Comando Vermelho amazonense se vingar de ações recentes do estado.
A últimas delas ocorreu no último sábado, dia 5, quando o traficante Erick Costa, conhecido como Dadinho, foi morto em um confronto com policiais militares da Rocam (Ronda Ostensiva Cândido Mariano).
Ele respondia a dois processos na Justiça por homicídio qualificado e tráfico qualificado e tráfico de drogas e era apontado como um dos 13 conselheiros do Comando Vermelho no Amazonas.
Ordem para atacar
Conforme as investigações, um irmão de Dadinho, conhecido como Ton e que também é chefe do Comando Vermelho, teria conclamado os “soldados” da facção a revidar a ação policial – as ordens teriam partido do presídio onde ele está preso.
Além de atear fogo a dezenas de veículos públicos, os criminosos atiraram e lançaram uma granada contra uma delegacia do centro de Manaus, na madrugada deste domingo, dia 6.
Devido aos ataques do crime organizado, as aulas chegaram a ser suspensas e o transporte coletivo ficou paralisado.
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Queda dos líderes
Dadinho era a terceira liderança do Comando Vermelho a cair desde o início do ano — a diferença é que ele foi morto ao invés de ser preso.

Foto: PC-AM
Em maio, a Polícia Federal prendeu numa mansão de luxo no Rio de Janeiro outro conselheiro da facção amazonense, Ocimar Prado Júnior, conhecido como Coquinho.
Segundo os investigadores, Coquinho cuidava do braço financeiro da organização criminosa.
Em fevereiro, foi a vez de Emmanuel da Silva Teles, o Ling, ser preso em Porto Alegre — ele era apontado como o responsável pelo arsenal de armas do bando.
PF e Seap
As prisões ocorreram no âmbito da Operação Nômade, nome referente ao fato de os chefões do crime estarem sempre mudando de estado, realizada pela PF com a parceria da Secretaria de Administração Penitenciária do Amazonas (Seap).
Após as cenas de terror vistas nos últimos dias, Manaus começou a voltar ao normal nesta terça-feira, 8.
Na segunda-feira, 7, a polícia chegou a prender 35 pessoas acusadas de envolvimento com os ataques, o que incluiu até a apreensão de uma criança de 11 anos.
Cerca de 144 homens da Força Nacional chegaram nesta terça-feira à capital. E as visitas nos presídios, que estavam suspensas por receio de rebelião, seriamr retomadas a partir desta quarta-feira, 9.
Corredor da cocaína
Nos últimos anos, a Região Norte virou um importante corredor de cocaína no mapa do narcotráfico internacional — a droga é trazida das fronteiras com a Colômbia e Peru por meio dos rios amazônicos.
Na época das cheias, surgem diversos afluentes nas florestas que dificultam o trabalho de fiscalização policial.
Foto: Polícia Civil-AM/divulgação