O ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o doleiro Lúcio Funaro ficaram frente a frente, nesta quinta-feira (26), em uma audiência na Justiça Federal em Brasília para acompanhar, por meio de videoconferência, o depoimento do ex-vice presidente da Caixa Econômica Federal Fábio Cleto.
Os três são réus na Operação Sépsis, um desdobramento da Lava Jato, que investiga um esquema de propinas envolvendo financiamentos do Fundo de Investimentos do FGTS (FI-FGTS), administrado pelo banco público.
Foi a primeira vez que Cunha e Funaro se encontraram desde que o conteúdo da delação do doleiro foi divulgado pela imprensa.
Ao chegar à sala de audiência, Funaro estendeu a mão para cumprimentar Cunha, mas o ex-presidente da Câmara o ignorou.
Cunha levou para a audiência uma mala de viagem de bordo repleta de documentos. Ele e Funaro deverão prestar depoimento nesta sexta-feira.
O interrogatório de Cleto também foi acompanhado por meio de videoconferência pelo ex-ministro do Turismo e ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves, que está preso no Rio Grande do Norte e também é réu nesse mesmo processo.
Esquema na Caixa
Em seu depoimento ao juiz federal Vallisney Souza Oliveira, Fábio Cleto, que está preso em Campinas (SP) e fechou acordo de delação premiada, confirmou que a sua indicação para a vice-presidência da Caixa foi feita por Eduardo Cunha e que foi avalizada por Henrique Eduardo Alves.
A informação também foi feita pelo próprio Funaro, nos depoimentos de delação premiada.
“O meu currículo saiu da mão de Lúcio Funaro, que passou para Eduardo Cunha. Foi entregue, então, ao Henrique Eduardo Alves, que levou ao [ex-ministro Antonio] Palocci, que levou até o [o ex-ministro Guido] Mantega”, disse Cleto.
Em sua delação, Cleto revelou um esquema de desvio de dinheiro do banco e afirmou que Cunha ficava com a maior parte da propina.
No comando da vice-presidência, responsável pelo FI-FGTS, Cleto era o responsável pela liberação de recursos do fundo para empresas.
Segundo ele, em troca, as empresas pagavam propina ao grupo que, de acordo com o delator, era liderado por Cunha.
“Eu tinha condição de atrapalhar o andamento da empresa dentro da Caixa Econômica”, afirmou.
Cleto ficou na Caixa de abril de 2011 a abril de 2015 e disse ainda que, no início, acertava os repasses de propina com Funaro mas que, depois de um desentendimento com o doleiro, passou a lidar diretamente com Cunha.
Ele também contou que mantinha uma planilha de controle dos repasses de propina com Funaro e que o doleiro pagava contas pessoais dele, como de cartão de crédito, e abatia da planilha.
Porto Maravilha
Ao detalhar as operações investigadas, Cleto (foto) disse que ficou acertado pagamento de 1,5% ao grupo de Cunha sobre o valor liberado em 2011 pela Caixa para o Porto Maravilha, na zona portuária do Rio de Janeiro, que foi da ordem de R$ 3,5 bilhões.
Segundo Cleto, a parte que coube a ele da propina foi de R$ 2,1 milhões por ter segurado por mais tempo, a pedido de Cunha, a liberação do seu voto no conselho da Caixa favorável à operação.
“As primeiras parcelas que foram pagas, entraram na planilha que eu tinha de controle com o Lúcio Funaro”, declarou.
O ex-presidente da Caixa descreveu uma reunião, convocada por Cunha, em um hotel de São Paulo para explicar a representantes das empreiteiras envolvidas nas obras a situação da liberação dos recursos para o Porto Maravilha.
Enquanto narrava o episódio durante a audiência, Cunha, que o observava, acenava a cabeça negativamente, em tom de discordância.
Fonte: G1
Foto: Reprodução/iG e EBC