Em meio aos acenos entre o pré-candidato do PT ao Palácio do Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente do PSD, Gilberto Kassab, em torno de uma aliança já no primeiro turno da corrida eleitoral, lideranças de 16 estados da sigla resistem ao acordo nacional com os petistas.
De acordo com estes cálculos eleitorais, que levam em conta os diferentes cenários regionais, o mais conveniente, para a maioria dos dirigentes, seria uma postura neutra ou a candidatura própria — há ainda uma minoria que defende o alinhamento ao projeto de reeleição do presidente Jair Bolsonaro.
No gesto mais contundente para atrair o PSD ao arco de Lula, o PT passou a debater a possibilidade de o senador Jaques Wagner não concorrer ao governo da Bahia, abrindo caminho para que Otto Alencar, também senador, seja o candidato do grupo político. A Bahia é uma das onze unidades da federação em que há proximidade entre os dois partidos — em contraste, há 13 em que os líderes preferem escapar da polarização e outros três (Paraná, Rio Grande do Norte e Distrito Federal) onde a preferência é por Bolsonaro.
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Com a fragmentação, uma candidatura própria seria uma alternativa menos propensa a fissuras internas, mas o “plano A” de Kassab, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), vem dando sinais de que não topará a empreitada.
O passar do tempo, sem a resolução do quadro, fez com que o presidente do PSD mudasse o tom na semana passada, quando declarou não ser “impossível” estar ao lado de Lula no primeiro turno.
Embora no Nordeste as conversas estejam mais avançadas, devido à popularidade do ex-presidente na região, também há entraves. No Maranhão, o PSD filiou o ex-prefeito de São Luís, Edivaldo Holanda Jr. para encabeçar uma chapa ao governo na oposição a Flávio Dino (PSB), aliado de Lula.
Com o movimento, o ex-prefeito aproximou-se de adversários de Dino, como a ex-governadora Roseana Sarney (MDB) e o senador Roberto Rocha (PSDB).
Ambos orbitam em torno de um palanque com Bolsonaro, mas a campanha também busca se afastar da rejeição ao bolsonarismo. Já o apoio de Lula é disputado pelo vice-governador Carlos Brandão (PSB) e pelo senador Weverton Rocha (PDT).
“Edivaldo foi um prefeito bem avaliado, jovem e evangélico. Apostamos em sua força na capital para levá-lo ao segundo turno. Ele tinha diálogo com o governo, mas eu sempre fui de oposição, e hoje temos uma candidatura de oposição” — afirma o deputado federal e presidente estadual do PSD, Edilázio Junior.
No Rio Grande do Norte, o ministro Fábio Faria (Comunicações) anunciou que deixará o PSD para apoiar Bolsonaro, mas seu pai, o ex-governador Robinson Faria, concorrerá a deputado federal e segue prestigiado no comando do partido. Em novembro, Kassab participou de um evento do PSD potiguar e endossou a oposição à governadora Fátima Bezerra, do PT, que tentará a reeleição.
O partido também estará na oposição a Lula no Paraná, onde o governador Ratinho Jr. (PSD) tende a abrir palanque a Bolsonaro e ao presidenciável do Podemos, Sergio Moro. No estado, Lula já declarou apoio ao ex-senador Roberto Requião, que deve se filiar ao PDT. No Distrito Federal, o presidente do PSD, Paulo Octávio, é próximo ao grupo da ministra Flávia Arruda (PL) e pode ser o vice na chapa do governador Ibaneis Rocha (MDB), ambos aliados de Bolsonaro.
Em outros estados, os obstáculos para uma aproximação entre Lula e PSD envolvem fatores como uma maior rejeição ao PT, especialmente no Sul e Centro-Oeste, ou a dificuldade de costurar palanques com aliados do petista.
Um exemplo é Alagoas, onde o PSD é comandado pelo ex-prefeito de Maceió, Rui Palmeira, cotado para disputar o governo. Palmeira é adversário do senador Renan Calheiros (MDB-AL), que estará no palanque de Lula no estado.
No Amapá, por sua vez, o PSD tem interesse em lançar o vice-governador Jaime Nunes (Pros) ao Executivo estadual, numa costura que pode envolver alianças informais tanto com o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), candidato à recondução, quanto com o grupo do também senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), mais próximo a Lula. Nesse contexto, a ideia é evitar a polarização presidencial.
Descompasso no Rio
Diante dos impasses, o PT atua para destravar alianças em estados nos quais há sinalizações mais favoráveis a Lula dentro do PSD.
Em Minas, aliados do prefeito Alexandre Kalil (PSD) defendem um palanque com o petista para viabilizar sua candidatura ao governo, polarizando a eleição contra Romeu Zema (Novo), aliado de Bolsonaro. Em entrevista na última semana à revista “Carta Capital”, o prefeito chegou a dizer que Lula não precisaria dele, “mas talvez o Kalil precise do Lula”.
No Mato Grosso, o próprio ex-presidente atua para trazer lideranças e políticos ligados ao agronegócio, como o senador Carlos Fávaro (PSD-MT).
“Lula deixou claro que o objetivo é uma construção com gente do agro, indústrias e parlamentares, como o senador Fávaro”, diz a deputada Rosa Neide (PT-MT).
Diferentemente da federação partidária debatida entre PT e PSB, o objetivo da cúpula petista é uma aliança com o PSD, juntando os partidos na chapa presidencial sem o compromisso de estarem juntos em todos os estados.
Um dos casos onde o eventual acordo nacional com o PSD pode não se repetir na disputa estadual é o Rio.
Na terça-feira, como mostrou a colunista Bela Megale, Lula reafirmou ao prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), que o PT manterá o apoio à pré-candidatura do deputado federal Marcelo Freixo (PSB) — Paes defende o nome do ex-presidente da OAB Felipe Santa Cruz.
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