Desmatamento da Amazônia leva empresas a recuarem de negócios

Reportagem indica várias multinacionais desfazendo negócios no Brasil

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Aguinaldo Rodrigues

Publicado em: 26/12/2019 às 19:19 | Atualizado em: 27/12/2019 às 07:31

O desmatamento acelerado no Brasil está pressionando fabricantes de alimentos, varejistas, investidores e operadores de commodities a reavaliar suas cadeias de suprimentos, em um esforço para se contrapor à limpeza de terreno e atingir metas ambientais.

A reportagem publicada pelo Estadão indica várias multinacionais desfazendo negócios no Brasil por causa da derrubada de floresta. Em outros anos, o desmatamento foi maior e sem ameaças de empresas.

Segundo a publicação, a Nestlé, que visa eliminar o desmatamento de suas operações nos próximos três anos, parou de comprar grãos de soja brasileiros da empresa Cargill, depois que uma revisão não conseguiu rastrear as oleaginosas de volta a plantações específicas, levantando preocupações de que foram produzidas em terreno convertido.

Hennes & Mauritz, dona da varejista sueca H&M, disse em setembro que não compraria mais couro de produtores brasileiros enquanto fornecedores não provassem que o seu gado não era criado ou alimentado por meio de terra desmatada.

A VF, que faz sapatos para as marcas Timberland e a Vans, anunciou uma proibição similar sobre o couro brasileiro, que tem respondido por cerca de 5% do fornecimento de couro da companhia.

Uma das maiores exportadoras e processadoras de soja do mundo, de acordo com reportagem, a Cargill disse que está desenvolvendo e implantando novas tecnologias para analisar e prever atividades de limpeza de terreno, e apelando a produtores rurais que maximizem a produção em campos existentes em vez de limpar novos terrenos.

A companhia prometeu em junho investir US$ 30 milhões em novas abordagens após reconhecer que ela e outras empresas de alimentos não atingiriam a meta de eliminar o desmatamento de importantes cadeias de suprimentos até 2020.

 

JBS

A Caisse de dépôt et placement du Québec, que gera US$ 247 bilhões para dezenas de pensões e planos de seguro, disse em outubro que havia vendido a sua posição na gigante frigorífica brasileira JBS após grupos ambientalistas criticarem o gerente financeiro para o seu investimento estimado em US$ 32 milhões.

Um porta-voz da firma disse que a decisão seguiu uma análise das práticas da produtora de carne.

Um porta-voz da JBS disse que a empresa está comprometida a encerrar o desmatamento enquanto aprimora a subsistência de produtores na Amazônia. “Urgimos aqueles que compartilham o objetivo comum de dar fim ao desmatamento a buscar soluções em vez de críticas”, ele disse.

 

Posição do governo

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que assumiu o mandato no começo deste ano, exortou os produtores rurais do seu país a expandir.

Fazendeiros brasileiros estão colocando mais terra para a aragem à medida que as exportações de soja, milho e carne do país têm disparado, em parte porque tarifas chinesas sobre bens agrícolas dos Estados Unidos têm ajudado a tornar colheitas e carne brasileiras mais baratas.

Ainda de acordo com o texto do Estadão, a taxa de desmatamento na Amazônia atesta que bateu este ano o seu nível mais alto desde 2008, de acordo com dados do governo brasileiro divulgados em novembro, com mais de 6 mil quilômetros quadrados de floresta tropical perdidas ao longo dos 12 meses encerrados em julho de 2019.

Em 2014, O Globo publicou: “Com uma taxa anual de desmatamento na Amazônia de 5.891 km², o Brasil é o primeiro do ranking mundial no desmatamento de florestas tropicais. O desmatamento de florestas nativas continua a ser a principal fonte das emissões de gases estufa no país”.

Naquele ano, nenhuma multinacional se manifestou a respeito da alta do desmatamento e nem ameaçou abandonar os negócios com produtores brasileiros.

Segundo a ONG WWF, entre 2017 e 2018, foram suprimidos 7.900 km2 de floresta amazônica, o que equivale a mais de cinco vezes a área da cidade de São Paulo. Em 2009 foram 7.464 km².

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Foto: Divulgação/Ibama/arquivo