Pedro Luis Kurunczi, empresário de Londrina (PR), tornou-se o primeiro indivíduo denunciado por supostamente financiar os ataques golpistas ocorridos em 8 de janeiro de 2023. A denúncia, apresentada pelo Ministério Público Federal (MPF) em 14 de dezembro, foi mantida em sigilo no Supremo Tribunal Federal (STF), omitindo o nome do denunciado na divulgação pública.
De acordo com apuração da Folha, o denunciado é Kurunczi, acusado de organizar o transporte de 108 passageiros para Brasília em quatro ônibus, alguns dos quais participaram dos ataques às sedes dos três Poderes, como parte da intentona bolsonarista.
A denúncia do MPF imputa ao empresário cinco crimes: abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado, associação criminosa armada, dano qualificado mediante violência ou grave ameaça e deterioração de patrimônio tombado. Se condenado por todos esses crimes, Kurunczi enfrenta uma possível pena cumulativa de mais de 30 anos de reclusão.
A defesa prévia do acusado deve ser apresentada antes que a denúncia seja julgada pelo STF, seguindo o trâmite colegiado. No entanto, a contagem do prazo de 15 dias para a defesa é interrompida durante o recesso do Judiciário, que coincidiu com a apresentação da denúncia.
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A reportagem tentou contatar Kurunczi, mas não obteve sucesso ao ligar para sua residência e o escritório de advocacia responsável por sua defesa. Conforme a denúncia, o empresário teria incitado a sublevação em grupos de mensagens, promovendo ação contra o resultado eleitoral e o presidente Lula, eleito em outubro de 2022.
Os atos do empresário, como a organização do transporte para Brasília e sua contribuição para arrecadação de fundos, são detalhados na denúncia do MPF. Um dos passageiros dos ônibus fretados, Orlando Ribeiro Júnior, foi preso no Palácio do Planalto em 8 de janeiro e já foi condenado a três anos de prisão pelo STF.
A denúncia de Kurunczi foi um dos últimos atos do subprocurador-geral Carlos Frederico Santos, que coordenou o Grupo Estratégico dos Atos Antidemocráticos. Sob sua liderança, o grupo denunciou 1.413 pessoas, incluindo incitadores, executores, agentes públicos e um financiador.
O nome de Kurunczi já figurava como réu em ações civis públicas movidas pela Advocacia-Geral da União contra financiadores do 8 de janeiro. O empresário também foi listado como financiador dos ataques golpistas no relatório final da CPI do 8/1 elaborado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
A reportagem buscou o posicionamento de Kurunczi e sua advogada, Ana Paula Delgado Barroso, mas não obteve resposta.
Em declarações anteriores, a defensora afirmou que seu cliente não compactua com atos de vandalismo, alegando que o financiamento dos ônibus foi realizado por meio de vaquinhas virtuais, devido à falta de recursos próprios de Kurunczi.
Ela ressaltou que, durante mais de dois meses, as manifestações lideradas por seu cliente foram pacíficas, sem indícios de que a situação em Brasília seria diferente.
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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil