Empresários pró-Bolsonaro já falam em impacto negativo para reeleição
Em conversas privadas, grandes empresários avaliam que os juros baixos eram uma das poucas vantagens de Jair Bolsonaro na Economia

Mariane Veiga
Publicado em: 16/04/2022 às 19:14 | Atualizado em: 16/04/2022 às 19:30
Empresários que apoiaram Jair Bolsonaro (PL) reclamam, nos bastidores, que a alta dos juros reduziu o retorno financeiro dos grupos, comprometendo planos futuros de expansão.
Em conversas privadas, grandes empresários avaliam que os juros baixos eram uma das poucas vantagens de Bolsonaro na Economia diante da implosão da agenda liberal, que prometia um Estado menor e menos intervenção na atividade econômica.
Em 2019, primeiro ano do mandato de Bolsonaro, a Selic (taxa básica de juros) era de 6,50%. Em 2020, com a pandemia, o Banco Central cortou para 2% como forma de estimular a economia.
A deterioração do cenário econômico interno e global, porém, fez o BC passar a taxa de 2,75%, no início de 2021, para 11,75% em março deste ano. A sinalização é de que os juros devem continuar em alta.
O impacto dessa alta nas empresas pode ser visto no balanço da Rumo, por exemplo, braço de logística do empresário Rubens Ometto.
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A elevação da Selic fez a despesa financeira do grupo com juros e variações monetárias bater em R$ 1,6 bilhão no ano passado, impactando diretamente o resultado líquido –que foi de R$ 992 milhões.
Em 2019, primeiro ano do mandato de Bolsonaro, essas despesas da companhia foram de R$ 687 milhões e o resultado líquido, de R$ 1,2 bilhão.
A situação foi ainda pior para a Cosan, do ramo de energia do grupo, que viu o custo da dívida líquida dobrar para R$ 2 bilhões, entre 2020 e 2021.
Ometto é um dos empresários com mais acesso ao presidente Bolsonaro, segundo assessores do Planalto.
Na JBS, gigante global do mercado de proteína animal, não foi diferente. A alta dos juros forçou a empresa a buscar financiamentos e outras formas privadas de levantar capital no exterior, de forma que o custo da dívida ficou R$ 700 milhões acima do patamar de 2019, segundo o balanço da companhia.
Na Riachuelo, do empresário Flávio Rocha, o volume de empréstimos e financiamentos aumentou em R$ 800 milhões entre 2019 e 2021, segundo o balanço da empresa. Nesse período, o grupo enfrentou uma severa crise de consumo devido à pandemia que levou a um prejuízo em 2020, revertido em 2021.
Recentemente, o empresário vem sinalizando que nenhum dos atuais presidenciáveis o agrada. Em 2018, ele apoiou Bolsonaro e foi até cotado para ocupar um ministério em seu governo.
Procurada, a Riachuelo, afirma, em nota, que nunca apoiou candidatos ou partido político e que nos 75 anos de existência “preservou seu valor institucional apartidário”.
A empresa afirma que encerrou o quarto trimestre com um lucro líquido de R$ 304,6 milhões, totalizando R$ 453,1 milhões no ano, revertendo o prejuízo de R$ 27,2 milhões em 2020.
Dessa forma, assessores políticos de Bolsonaro trabalham para que esse tema não se torne um ponto fraco do presidente durante a campanha, levando o empresariado a desembarcar do apoio ao presidente.
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Foto: José Dias/Presidência da República