Estratégia das redes bolsonaristas volta ser ataques ao STF e TSE
A centralidade dos tribunais no discurso acompanha a retomada do tom agressivo de Bolsonaro

Ferreira Gabriel
Publicado em: 04/04/2022 às 13:38 | Atualizado em: 04/04/2022 às 13:38
A sete meses das eleições, os ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF), ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e aos seus ministros voltaram a ganhar fôlego entre perfis bolsonaristas em grandes plataformas de redes sociais.
No YouTube e no Instagram, as menções às instituições e aos magistrados superam as referências ao principal rival do presidente na disputa eleitoral, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e as citações aos demais pré-candidatos.
A centralidade dos tribunais no discurso acompanha a retomada do tom agressivo pelo próprio presidente Jair Bolsonaro, que, no último dia 31, aniversário do golpe militar, fez uma referência indireta aos magistrados e, em tom de ofensa, disse: “Se não tem ideias, cala a boca. Bota a sua toga e fica aí, sem encher o saco dos outros”.
O alerta sobre o direcionamento dos ataques à magistratura foi revelado por um levantamento feito pela pesquisadora em comunicação política Leticia Capone, do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Internet e Política da PUC-Rio, que analisou 240 canais do YouTube e mais de 900 perfis do Instagram, todas contas bolsonaristas. Já a consultoria em monitoramento de redes sociais Arquimedes detectou o mesmo movimento no Twitter, onde as menções ao STF atingiram pico em março.
Os ataques às instituições, normalmente, adotam três linhas: colocar em xeque as urnas eletrônicas e o processo eleitoral, minar as instituições como um todo, esvaziando o papel do STF, e atacar pessoalmente ministros e servidores da Justiça.
No YouTube, os vídeos com menções aos magistrados e tribunais dispararam em fevereiro e março deste ano.
Em setembro do ano passado, mês em que ocorreram manifestações antidemocráticas com a participação de Bolsonaro, foram registradas 185 postagens com referências ao Judiciário entre canais bolsonaristas monitorados. No mês passado, foram 999 vídeos com menções ao STF, ao TSE e aos seus ministros, número mais de cinco vezes maior.
“Os ministros e os tribunais ganham maior relevância que os adversários políticos de Bolsonaro no pleito eleitoral. Esse movimento é uma tentativa de deslegitimar o processo eleitoral e as instituições. Essas narrativas vão minando a credibilidade das instituições e podem fortalecer o movimento, inclusive posterior às eleições, de questionamento do resultado do pleito”, avalia Leticia Capone.
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