Por Neuton Corrêa , da redação
Em nova estratégia de ataque à Zona Franca de Manaus (ZFM), o jornal Folha de São Paulo voltou a atacar o modelo o desenvolvimento regional nesta quinta-feira, dia 13.
Dessa vez, o impresso paulista associa a ZFM à miséria, à invasão de terras na capital, chama o modelo fiscal que atrai investimentos para o Amazonas de obsoleto e volta a atacar a renúncia fiscal do governo federal que mantém o Polo Industrial de Manaus.
Na reportagem de página inteira, o jornal mostra que mudou sua estratégia de ataque ao Amazonas.
Antes, abria espaço para formadores de opinião criticarem o modelo e fazia reportagens a distância.
Agora, enviou uma equipe de jornalistas que saiu em busca de problemas na cidade como invasão de terra, violência, deteriorização das ruas do distrito industrial e linka as renúncias com a perda da geração de emprego.
Com isso, a Folha tenta mostrar que a ZFM está indo contra a lógica dos objetivos dos incentivos fiscais, que é a geração de emprego.
“Resultado do crescimento desordenado, Manaus tem o terceiro pior serviço de esgoto entre as capitais, com apenas 10,2% de cobertura em 2016. Na contramão do país, é um problema que cresce: em 2012, o percentual era de 27,5%, segundo o Instituto Trata Brasil”, diz um trecho da reportagem.
Os executivos da Honda aproveitaram a vinda da Folha de S. Paulo para se queixar, conforme mostra outro trecho da matéria:
“Ao mesmo tempo em que ganhamos benefícios fiscais para ficar aqui, não tivemos a melhoria esperada em infraestrutura de logística”, disse ao impresso paulista Paulo Takeuchi, diretor de relações institucionais da Honda.
“O executivo afirma que a estrutura do porto é a mesma de 42 anos atrás, quando a empresa se instalou na ZFM. Esse e outros entraves, como a falta de pavimentação da BR-319 (que liga Manaus a Porto Velho), fazem com que o tempo de viagem por barco para o Sudeste continue o mesmo, 15 dias, explica Takeuchi”.
A Folha fala também do Centro de Biotecnologia da Amazonas, que até hoje nunca funcionou plenamente.
Suframa, como sempre, se cala e se curva
E o mais incrível no registro da reportagem é que o titular da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), Appio Tolentino, não atendeu à reportagem e ainda fez o jornal lembrar de seu padrinho político, que está em campanha política:
“A reportagem procurou o superintendente da Suframa, Appio Tolentino, mas o pedido de entrevista não foi atendido. No cargo há 15 meses, Tolentino é indicado político do senador Omar Aziz (PSD-AM), candidato a governador”.
Obsoleta, Zona Franca de Manaus consome R$ 24 bi em renúncia fiscal Polo tem infraestrutura aos pedaços e centro de pesquisas subutilizado
Fabiano Maisonnave Lalo de Almeida
Francineide de Souza,37, foi demitida em 2013 da fábrica de videogames na Zona Franca de Manaus onde trabalhava havia oito anos. Sem emprego fixo desde então, participou, em agosto deste ano, da invasão de um terreno do Distrito Industrial 2, inicialmente destinado a uma empresa. Suaesperança agora, como muitos ali, é conseguir um lote e fugir do aluguel. Criado no regime militar, o polo industrial amazônico vê os empregos minguarem e a infraestrutura se deteriorar ou nem sequer sair do campo das promessas, processo acelerado pela crise dos últimos seis anos.
‘As pessoas ganhavam muito dinheiro, mas sabemos que o distrito industrial caiu”, diz Souza, que recentemente se formou em serviço social, vende roupas e cosméticos para sustentar os três filhos. “Na minha família, está todo mundo desempregado.”
A crise econômica atingiu em cheio as fábricas da ZFM, que fecharam cerca de 43 mil postos de trabalho desde 2012 –ou 1 de cada 3 existentes.
No segundo trimestre do ano, a taxa de desocupação na capital amazonense chegou a 17,2%, acima da média nacional de 12,4%. Os dados são do IBGE.
A recessão acelerou a ocupação desordenada de Manaus, que, com a implantação da ZFM, há 51 anos, viu os 311 mil habitantes que tinha em 1970 superarem os 2 milhões.
Vindos sobretudo do interior da Amazônia, os primeiros trabalhadores não tinham onde morar e acabavam tomando terrenos próximos das fábricas. Algumas invasões ganharam nome de empresas da ZFM, como Sharp, e outras, de políticos locais, uma estratégia para ganhar respaldo contra ações de despejo.
“Ficam sem saneamento, sem escola. Fica um povo abandonado pelo poder público”, afirma o ex-operário Luis Odilo Reis, presidente do Iaci (Instituto Amazônico da Cidadania), que denuncia casos de corrupção envolvendo a administração pública.
Localizado na zona leste, o Distrito Industrial 2 segue esse tipo de ocupação. A região, uma das mais pobres e violentas da capital amazonense, tem centenas de barracos construídos em áreas invadidas, muitas delas da Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus), erguidos ao lado de galpões fechados.
A invasão onde está Souza, João Paulo 2º Quarta Etapa, começou no início de agosto. Em dias, o terreno foi todo recortado em lotes – parte deles, à custa de um fragmento de floresta que resistia ali.
A assessoria da Suframa não informou o total de áreas invadidas existente em Manaus.
Resultado do crescimento desordenado, Manaus tem o terceiro pior serviço de esgoto entre as capitais, com apenas 10,2% de cobertura em 2016. Na contramão do país, é um problema que cresce: em 2012, o percentual era de 27,5%, segundo o Instituto Trata Brasil.
Os gargalos de infraestrutura não poupam nem as avenidas que circundam a Honda, a maior fábrica da ZFM, com 5.500 funcionários diretos (no auge, em 2011, eram 12 mil).
Por causa de uma controvérsia entre a Suframa e a Prefeitura sobre a responsabilidade da manutenção, as vias apresentam buracos e rachaduras. Com os diversos galpões vazios, compõem uma imagem de abandono e decadência.
“Ao mesmo tempo em que ganhamos benefícios fiscais para ficar aqui, não tivemos a melhoria esperada em infraestrutura de logística”, diz Paulo Takeuchi, diretor de relações institucionais da Honda.
O executivo afirma que a estrutura do porto é a mesma de 42 anos atrás, quando a empresa se instalou na ZFM. Esse e outros entraves, como a falta de pavimentação da BR-319 (que liga Manaus a Porto Velho), fazem com que o tempo de viagem por barco para o Sudeste continue o mesmo, 15 dias, explica Takeuchi.
“Temos uma planta que investe para se modernizar e se tornar mais produtiva, mas não temos a compensação de toda a infraestrutura ainda. O futuro da região se tornará crítico se nós tivermos essa constante redução do benefício sem a contrapartida das melhorias de infraestrutura.”
Outra tarefa incompleta da ZFM, que neste ano terá R$ 24 bilhões em isenção fiscal, é o Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA), aberto em 2002 e mantido pela Suframa.
Dezesseis anos depois, o prédio de 12 mil m? é subutilizado, com áreas como alojamento para pesquisadores e incubadoras desativadas.
O CBA conta apenas com pesquisadores-bolsistas, cujos contratos precisam ser renovados anualmente. São 45 hoje, mas a instituição já chegou a contar com cerca de 120.
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Foto/arte: BNC Amazonas