Apesar de críticas que ele próprio faz à tentativa de Jair Bolsonaro (PL) de politizar as Forças Armadas, o general da reserva Carlos Alberto Santos Cruz seguiu o caminho do ex-juiz Sergio Moro, filiou-se ao Podemos e entrou de vez para a política.
Em entrevista à Folha , o general explica por que decidiu se aliar ao ex-companheiro de governo e dispara: “O retorno do ex-presidente Lula ou a reeleição de Bolsonaro seria um grande retrocesso para o Brasil.”
“Os dois destruíram a democracia, um destruiu a esquerda, o outro destruiu a direita”, afirma.
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Ex-ministro da Secretaria de Governo de Bolsonaro, por quem foi demitido em junho de 2019 , o general afirma que o mandatário descumpriu uma série de promessas de campanha, a começar por buscar a reeleição, passando por se juntar ao centrão.
“O grande traidor deste país se chama Jair Messias Bolsonaro”, afirma. “Essa tentativa de transferência de traição não cola”, diz, sobre mandatário se referir desta forma a Moro.
Santos Cruz afirma que Bolsonaro tentou arrastar as Forças Armadas para o jogo político do governo, mas avalia que não há chance de isso ocorrer em um eventual governo Moro, embora o ex-juiz também busque se cercar de militares.
Por que o sr. decidiu entrar para a política? Primeiro lugar, a decisão de participar da vida pública foi amadurecendo pouco depois que eu saí do governo [em junho de 2019], quando existia uma tentativa do governo de arrastar as Forças Armadas para o jogo político.
O meu objetivo é participar da vida pública com mais intensidade para expressar o que acho, que estamos sendo governados de forma descabida.
O Brasil sofreu um retrocesso muito grande no relacionamento institucional necessário numa democracia. Isso já vinha acontecendo antes desse governo, quando a gente volta ao mensalão, essa destruição da democracia.
Segundo, que as Forças Armadas têm de ser valorizadas, preservadas e não podem ser instrumento de jogo político. Terceiro, [porque] o retorno do ex-presidente Lula ou a reeleição de Bolsonaro seria um grande retrocesso para o Brasil.
Então, decidi auxiliar o Moro, que é uma das boas opções, para que o Brasil não fique nesse dilema da polarização, que não vai trazer benefício nenhum, vamos viver de campanha de baixaria, vamos continuar no retrocesso institucional.
Os dois [Lula e Bolsonaro] destruíram a democracia. Um destruiu a esquerda, o outro destruiu a direita. E eu, me filiando ao partido, tenho melhores condições de influir nesse apoio. É por isso.
O sr. citou o mensalão. No caso do Bolsonaro, a negociação de emenda de relator seria um ataque à democracia na sua visão, é isso? A democracia pressupõe independência entre os Poderes. Se eu pego o dinheiro a que tenho acesso como Executivo e compro o Legislativo, eu destruí um fundamento básico, que é a independência entre Poderes.
Bolsonaro fez isso ao negociar emendas de relator, e Lula, com o mensalão. Você não pode negociar dinheiro público e benefício pessoal. Tenho de negociar outros parâmetros, políticas públicas.
Mas emenda parlamentar, em si, não é ilegal… Emenda não é ilegal. Mas a maneira como ela [a de relator] foi feita é que não pode. Os cidadãos têm de saber quem pediu e quanto foi gasto por cada parlamentar. Sem transparência, é deterioração da democracia.
O sr. disse na sua filiação, como Moro, que há pessoas boas na política e não se pode criminalizá-la. No centrão há pessoas boas? Em todos os partidos tem pessoas boas e pessoas ruins.
A cúpula e boa parte do Congresso respondem a processos. Uma vez no Parlamento, dialogaria com essas pessoas, com Arthur Lira (PP-AL), por exemplo? Sim. Ele tem uma função importante na Câmara. Ele representa a Câmara e tem de respeitar a instituição. O problema particular tem de resolver na Justiça. Você não pode adotar posições moralistas e sair julgando quem é bom ou ruim.
Então o sr. sendo eleito, Moro sendo eleito, o sr. é a favor de sentar e fazer composições inclusive com integrantes do centrão? Com todos os políticos. O que você tem de estabelecer são quais os parâmetros políticos que você deve usar nas negociações. Se eu sou presidente, tenho de dizer: eu não negocio benefícios pessoais nem dinheiro público.
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Foto: divulgação