Gestão da pandemia gera fissuras na base religiosa de Bolsonaro
Nem o empenho do governo federal para manter templos abertos durante a crise sanitária melhorou o humor de parte de sua base

Diamantino Junior
Publicado em: 18/04/2021 às 20:32 | Atualizado em: 18/04/2021 às 20:44
A gestão da pandemia do novo coronavírus tem provocado fissuras na base formada por líderes religiosos que apoiam o presidente Jair Bolsonaro. Alguns pastores evangélicos que votaram nele há dois anos já falam em terceira via para as eleições de 2022, enquanto outros admitem que o apoio ao presidente persiste apenas para evitar a volta do PT ao poder.
Nem o empenho do governo federal para manter templos abertos durante a crise sanitária melhorou o humor de parte de sua base.
A redução do entusiasmo com o mandatário começou a ficar clara em 29 de março, quando Bolsonaro fez uma convocação para um “dia do jejum”
No ano passado, 36 líderes evangélicos gravaram um vídeo em que atendiam “à proclamação santa feita pelo chefe supremo da nação”.
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Este ano não houve vídeo. A cerimônia, realizada no mesmo dia em que foi anunciada a troca de seis ministros, teve a presença de três lideranças.
O pastor Samuel Câmara, da Assembleia de Deus Belém, aparecia no vídeo do ano passado, mas hoje tem restrições ao presidente.
“O exercício do poder tende a desgastar, e a pandemia tem participação nisso. Gostaríamos que o presidente fosse mais protagonista. Acho que em alguns momentos ele é extremamente inflexível”, disse.
Câmara defende o uso de máscara e a vacinação e acredita que essas medidas devem se sobrepor às convicções pessoais de Bolsonaro.
“Se houver uma terceira via, creio que o apoio (a Bolsonaro) será menor”, disse.
Líder da Igreja Plenitude do Trono de Deus, emergente entre as neopentecostais, o apóstolo Agenor Duque condenou a troca de André Mendonça por Anderson Torres no Ministério da Justiça e a entrada da deputada Flávia Arruda (PL-DF) na Secretaria de Governo.
“O jejum não era para o meu Deus”, escreveu o pastor, que, no ano passado, também aparecia no vídeo pró-Bolsonaro.
Procurado, o apóstolo não retornou.
Líderes evangélicos ainda apoiam Bolsonaro com o objetivo de evitar a volta do PT à Presidência, na opinião do pastor batista Carlito Paes, líder da Igreja da Cidade de São José dos Campos.
“Penso ser um erro, porque este ato pode ser lido pelo governo como apoio incondicional e (levar o governo a que) cometa novos erros”, escreveu no Twitter, no começo de março.
Apesar da crítica, Paes já rezou com Bolsonaro depois que ele foi eleito presidente e chegou a tentar indicar nomes no Ministério da Educação.
Desde que assumiu o poder, Bolsonaro sempre obteve seus melhores índices de aprovação entre os evangélicos.
Em abril de 2019, pesquisa do Datafolha mostrava que 42% dos eleitores desse grupo consideravam o governo como ótimo ou bom.
Em março deste ano, esse número era de 37%. Apesar da redução, os evangélicos ainda avaliam Bolsonaro melhor do que a média da população. Segundo o Datafolha, o percentual geral dos que consideram o governo ótimo ou bom é de 30%.
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Foto: Divulgação/Facebook