HidrogĂªnio verde: Alemanha aposta na parceria com Brasil

De acordo com consultoria alemĂ£, o Brasil irĂ¡ liderar essa corrida, transformando-se em um grande exportador global.

Publicado em: 03/02/2023 Ă s 17:56 | Atualizado em: 03/02/2023 Ă s 17:56

Na vanguarda da economia do hidrogĂªnio verde, Alemanha vĂª no Brasil um supridor estratĂ©gico do combustĂ­vel, grande aposta para substituir petrĂ³leo, gĂ¡s e carvĂ£o e cumprir metas climĂ¡ticas.

Enquanto o Brasil busca resgatar seu protagonismo ambiental, a Alemanha corre contra o tempo para superar a atual crise energĂ©tica e cumprir suas ambições climĂ¡ticas.

Diante disso, o presidente Luiz InĂ¡cio Lula da Silva e o chanceler federal alemĂ£o, Olaf Scholz, lĂ­deres das maiores economias do Mercosul e da UniĂ£o Europeia (UE), reuniram-se nesta semana para discutir a agenda de transformaĂ§Ă£o de suas economias, com foco na proteĂ§Ă£o da AmazĂ´nia, energias renovĂ¡veis e no acordo comercial UE-Mercosul.

Durante o encontro, Scholz destacou o potencial brasileiro para o hidrogĂªnio verde (H2V), combustĂ­vel produzido a partir de energias renovĂ¡veis e que desponta como a principal aposta das economias desenvolvidas para descarbonizar setores intensivos em CO2, como agricultura, transportes, indĂºstrias e geraĂ§Ă£o de energia.

“VocĂªs [o Brasil] tĂªm muita experiĂªncia com energias renovĂ¡veis e enormes potenciais tambĂ©m atravĂ©s da produĂ§Ă£o e da exportaĂ§Ă£o de hidrogĂªnio verde e seus respectivos produtos”, afirmou o chefe de governo alemĂ£o.

Alemanha na vanguarda

Diante das restrições de acesso Ă  energia russa devido Ă  guerra na UcrĂ¢nia e de crĂ­ticas Ă  ampliaĂ§Ă£o da queima de carvĂ£o mineral, a Alemanha estĂ¡ prestes a dar o pontapĂ© inicial na economia do hidrogĂªnio verde.

EstĂ¡ marcado para 7 de fevereiro o primeiro leilĂ£o da polĂ­tica H2Global, que prevĂª incentivos a importações do combustĂ­vel, identificado como substituto estratĂ©gico do petrĂ³leo, gĂ¡s e carvĂ£o para obtenĂ§Ă£o de energia limpa. A primeira licitaĂ§Ă£o serĂ¡ para contratos de amĂ´nia verde, produto derivado do H2V.

No dia 21, uma nova rodada deverĂ¡ ser realizada para contrataĂ§Ă£o de combustĂ­vel sustentĂ¡vel de aviaĂ§Ă£o e metanol, tambĂ©m oriundos do H2V. Com a iniciativa, o paĂ­s europeu age para retomar a vanguarda do processo de transiĂ§Ă£o energĂ©tica e, sobretudo, driblar a sua dependĂªncia do petrĂ³leo e gĂ¡s russos.

Na outra ponta, encontra-se o Brasil, que pode se posicionar como um dos grandes exportadores do H2V para a Europa e recuperar o seu prestĂ­gio como “potĂªncia verde” no cenĂ¡rio internacional.

“Por estar exposta Ă  questĂ£o crucial da segurança energĂ©tica e ter lançado o primeiro edital de compra de insumos verdes do H2V em contratos de dez anos, a Alemanha tem uma posiĂ§Ă£o de liderança”, afirma Nivalde de Castro, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador do Grupo de Estudos do Setor ElĂ©trico (Gesel).

Por que o Brasil?


Um estudo publicado em janeiro pela consultoria estratĂ©gica alemĂ£ Roland Berger projeta que o hidrogĂªnio verde serĂ¡ a principal fonte de energia do planeta, se o mundo cumprir os compromissos estabelecidos no Acordo de Paris. Nesse cenĂ¡rio, o mercado mundial de H2V deverĂ¡ movimentar mais de 1 trilhĂ£o de dĂ³lares em venda direta do combustĂ­vel ou derivados.

De acordo com a consultoria alemĂ£, o Brasil irĂ¡ liderar essa corrida, transformando-se em um grande exportador global. A Roland Berger estima que o mercado brasileiro de H2V irĂ¡ alcançar um valor anual de R$ 150 bilhões, dos quais R$ 100 bilhões serĂ£o provenientes das exportações.

De acordo com a AgĂªncia Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglĂªs), o custo de produĂ§Ă£o por quilo do H2V a partir da eletrĂ³lise da Ă¡gua no mercado internacional, com utilizaĂ§Ă£o de fontes renovĂ¡veis, Ă© de entre 3 e 8 dĂ³lares. JĂ¡ no Brasil, se considerado o emprego da energia gerada em usinas eĂ³licas ou solares no processo de eletrĂ³lise, o custo estaria entre 2,2 e 5,2 dĂ³lares.

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O baixo custo de produĂ§Ă£o do H2V no Brasil se justifica, sobretudo, pela abundĂ¢ncia de fontes renovĂ¡veis. Nivalde de Castro lembra que o paĂ­s tem capacidade de produzir 1,3 milhĂ£o de megawatts (MW) a partir de geraĂ§Ă£o eĂ³lica e solar. Em expansĂ£o, as fontes renovĂ¡veis geram menos de 200 mil MW atualmente.

“O Brasil tem tudo para ser a ArĂ¡bia Saudita do hidrogĂªnio a partir de 2030”, afirma o economista, em alusĂ£o ao peso do paĂ­s Ă¡rabe na produĂ§Ă£o petrolĂ­fera. “O desafio Ă© transformar o potencial em realidade”, ressalva.

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