O governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) mentiu para a Organização das Nações Unidas sobre o atendimento humanitário e de saúde a povos ianomâmis. A alegação era de que, mesmo sem ações concretas, sua gestão estaria atuando na região.
Na prática, porém, a omissão do ex-capitão e seus aliados levou centenas de indígenas à morte por desnutrição e outras doenças evitáveis. O atual governo Lula (PT) instalou uma força-tarefa para conter a crise sanitária na região.
A falsa informação sobre a atuação para conter a crise humanitária que atinge os ianomâmis foi prestada também por Bolsonaro à Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Em ambos os casos a mentira foi contada por cartas enviadas pela gestão do ex-presidente reveladas pelo jornalista Jamil Chade, do site UOL, nesta segunda-feira 23.
Em todas as mensagens o antigo governo dá garantias para as organizações de que estaria atendendo os ianomâmis com programas específicos. Eles dizem, por exemplo, que montaram uma operação de fornecimento de alimentos e alegam ter montado um departamento específico de saúde indígena para atender a população. Há menções a ações de controle de nível de mercúrio nas terras e citações a termos genéricos como ‘medidas para conter covid-19 e malária’.
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Na prática, porém, os ianomâmis seguiram em situação de fome extrema e sendo atingidos por doenças evitáveis. Ao todo, foram registrados 11 mil casos de malária e 570 mortes de crianças. As taxas de mercúrio registradas entre os indígenas da região também é alarmante.
Nos textos encaminhados por Bolsonaro à ONU não há, porém, qualquer indicador de resultados dos programas que ele alega ter desenvolvido na região. As cartas, vale ainda ressaltar, são respostas a denúncias de diferentes relatores da organização sobre a crise humanitária instalada na região. Eram, portanto, cobranças por explicações para uma situação de caos registrada pelas entidades.
A última resposta do ex-capitão, segundo o site, data de março de 2022. Há outras várias cartas anteriores. As datas reforçam o indicativo de que o governo brasileiro tenha se omitido diante da situação. No domingo 22, o site The Intercept Brasil revelou que a gestão do ex-capitão teria ignorado 21 pedidos de ajuda aos povos.
As solicitações foram realizadas em sua maioria pela Hutukara Associação Yanomami. Há outros órgãos que apontaram o mesmo cenário de crise humanitária.
Importante ressaltar que os ofícios já apontavam a possibilidade de que a situação escalasse para a proporção de genocídio, pelo qual o agora ex-presidente é acusado. O caso foi levado pelo PT ao Ministério Público.
Sobre o tema, Bolsonaro tem dito que a crise humanitária, evidenciada por imagens que mostram dezenas de indígenas desnutridos, além dos números oficiais de mortos e infectados por doenças, se trata apenas de uma ‘farsa da esquerda’.
Leia mais na matéria de Getulio Xavier no portal da Carta Capital
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil