Intolerância religiosa de Michelle Bolsonaro é criticada por bolsonaristas

Várias mensagens que evocam respeito a todas as religiões e julgam que ela erra ao ligar rivais do marido ao demônio circularam em grupos favoráveis a Bolsonaro

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Publicado em: 27/08/2022 às 10:00 | Atualizado em: 27/08/2022 às 10:02

A postura da primeira-dama Michelle Bolsonaro sobre religiões de matriz africana gerou críticas até entre bolsonaristas nas últimas semanas. Várias mensagens que evocam respeito a todas as religiões e julgam que ela erra ao ligar rivais do marido ao demônio circularam em grupos favoráveis a Jair Bolsonaro (PL).

Análise do Observador Folha/Quaest, que monitora mais de 1.200 grupos de WhatsApp durante o período eleitoral, mostra que a tendência é de apoio a Michelle entre bolsonaristas, mas sem consenso.

A Quaest verificou, de 18 de julho a 22 de agosto, 360 mil menções relacionadas à primeira-dama e à socióloga Rosângela Silva, a Janja, mulher de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 721 grupos políticos, tanto da direita como da esquerda.

Depois, fez uma “análise de sentimento”, que consiste em identificar se o conteúdo é relacionado a críticas e/ou ataques (negativo) ou a elogios e/ou apoio (positivo).

Em grupos pró-Bolsonaro, 63% das menções a Michelle são positivas, enquanto 37% (cerca de 63 mil) são negativas. Nessa fatia, estão as críticas à intolerância religiosa.

“Não sou de querer polemizar em um grupo, muitas vezes deixo de emitir um posicionamento para não parecer que estou lacrando. Mas não entendi por que a primeira-dama precisa postar uma coisa dessas. Esse tipo de conduta só reforça mais ainda a intolerância às religiões de matriz africana”, afirma uma mensagem.

Outras mensagens destacam comentários como “nossa primeira-dama está aí servindo à intolerância religiosa”, “o que a primeira-dama fez foi inadmissível”, “falar que o Palácio [do Planalto] já foi dos demônios é um exagero” e “o que Bolsonaro e Michelle fazem com esse negócio de religião é uma completa intolerância e desrespeito com a opinião e religião alheia, é muita covardia”.

Há também mensagens de tom crítico que parecem vir de possíveis infiltrados nos grupos. Um exemplo foi a divulgação de uma nota de repúdio da Frente Inter-religiosa Dom Paulo Evaristo Arns, segundo a qual as declarações da primeira-dama feriam o Estado de Direito e promoviam a cultura de ódio.

Em grupos lulistas, Michelle também teve menções negativas (97%), o que já era esperado. Da mesma maneira, Janja tem 88% de menções negativas em grupos bolsonaristas –cerca de 72 mil mensagens.

Janja foi relacionada a termos como “pomba-gira”, “macumba” e “macumbeira”. Em fevereiro, ela publicou uma fotografia na qual está com uma roupa branca e ao lado de imagens como a de Xangô, um dos orixás da umbanda e do candomblé. Na legenda, diz ter saudade de vestir branco e “girar, girar, girar…”.

“Essa mulher do Lula e a gente do PT são tudo frango de macumba. Deus me livre…”, afirma uma mensagem.

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Foto: Marcos Corrêa/PR