Bolsonaro nega militares em ação da PF contra invasores de terra indígena

Forças Armadas negaram apoio aos homens da PF que atuavam na retirada de invasores de território indígena

Refinarias suíças ameaçam barrar importação de ouro da Amazônia

Diamantino Junior

Publicado em: 05/08/2022 às 09:29 | Atualizado em: 05/08/2022 às 09:43

O Ministério da Defesa deixou de atender um pedido da Polícia Federal para que as Forças Armadas auxiliassem, no fim de julho, uma complexa ação de retirada de invasores e gado de uma terra indígena no Pará.

O pedido ao ministério foi por auxílio na logística da operação, com a montagem de alojamentos provisórios e leitos para os agentes da PF e da Força Nacional de Segurança Pública, vinculada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Houve inclusive a proposta de que a Defesa seria ressarcida, por meio de um remanejamento orçamentário, mas não houve colaboração por parte dos militares até agora, segundo fontes a par da operação feita na região de São Félix do Xingu (PA), a cerca de 1.000 quilômetros de Belém.

Em nota, o Ministério da Defesa disse ter informado a PF sobre “possibilidade de apoio em data posterior”. A pasta afirmou levar em conta a disponibilidade de recursos financeiros e a “necessidade das medidas de preparação adequadas, por se tratar de local isolado sem qualquer estrutura de suporte”.”No mesmo período de apoio solicitado pela PF, as Forças Armadas se encontram auxiliando a Secretaria de Operações Integradas, do Ministério da Justiça, em ações na terra indígena yanomami, em Roraima. Atuam também em apoio à operação Guardiões do Bioma, em Humaitá, no Amazonas”, cita a nota.A ausência das Forças Armadas em operações do tipo, apesar dos pedidos por ajuda em logística, passou a ser constante, especialmente o fornecimento de aeronaves para sobrevoos e acessos a áreas de garimpo ilegal.Investigadores que cuidam de inquéritos sobre extração de ouro em terras indígenas afirmam que as Forças Armadas se recusam a fornecer aeronaves para ações que tentam coibir o avanço da estrutura logística mantida por quem explora a atividade ilegal.

Um exemplo disso são ações na terra yanomami, em Roraima, onde 20 mil pessoas, pela estimativa de associações indígenas, exploram garimpos ilegais sustentados por donos de aeronaves e máquinas. Já houve recusas dos militares em fornecer aeronaves para ações de fiscalização. O helicóptero usado pela PF fica em Manaus, a 600 km do território.A operação no Pará, para retirada de cerca de mil posseiros e de 700 a mil cabeças de gado atribuídas a grileiros, é conduzida pela PF desde o último dia 24. A ação ainda prossegue, diante das dificuldades na retirada das pessoas e dos animais da terra Trincheira/Bacajá, onde vivem indígenas das etnias kayapó e xikrin.A desintrusão ocorre a partir de uma ação em curso no STF (Supremo Tribunal Federal). A ação pede a retirada de invasores em sete territórios: Yanomami, Karipuna, Uru-Eu-Wau-Wau, Arariboia, Mundurucu, Kayapó e Trincheira/Bacajá. O processo é relatado pelo ministro Luís Roberto Barroso, que já deu decisões favoráveis.