Investigações sobre atos golpistas avançam para Bolsonaro

A PF já prendeu ao menos 20 suspeitos e cumpriu 37 mandados de busca e apreensão em operação contra envolvidos na organização, participação e financiamento dos atentados golpistas.

Diamantino Junior

Publicado em: 08/02/2023 às 09:39 | Atualizado em: 08/02/2023 às 09:39

Um mês após a invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, em 8 de janeiro, ainda faltam respostas sobre a omissão de agentes de segurança e uma possível participação organizada de lideranças políticas.

Uma possível influência de Jair Bolsonaro (PL) nos atentados é um dos focos das investigações da PF e do Judiciário.

O advogado Frederick Wassef já afirmou que o ex-presidente “sempre repudiou todos os atos ilegais e criminosos” e negou participação no que chamou de “movimentos sociais espontâneos”.

A PF já prendeu ao menos 20 suspeitos e cumpriu 37 mandados de busca e apreensão em operação contra envolvidos na organização, participação e financiamento dos atentados golpistas.

Isso sem contar mais de mil pessoas presas em frente aos quartéis após os atos —, enquanto o STF, sem estrutura para processar tantos nomes, avalia como prosseguir com os acusados.

Nos bastidores do Judiciário e na classe política a avaliação é que as investigações tendem a fechar o cerco contra Bolsonaro — algo visto com certa expectativa pelo Palácio do Planalto.

O ministro Alexandre de Moraes incluiu o ex-presidente no inquérito sobre a autoria dos atos golpistas, depois que um vídeo questionando o resultado da eleição foi postado — e apagado — das redes do ex-presidente.

O que mais pesa contra Bolsonaro, até agora:

Relação próxima com o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, que está preso e tinha uma minuta golpista em casa.

Denúncia do senador Marcos do Val (Podemos-ES) sobre uma suposta trama para grampear Moraes e impedir a posse de Lula.

Mandado de busca e apreensão contra Léo Índio, sobrinho do ex-presidente, que participou dos atos de 8 de janeiro.

Operação Lesa Pátria

A cada semana, a PF investe em novas fases da operação contra bolsonaristas envolvidos nos atos de destruição.

Doze dias após as invasões, os agentes deram início à Operação Lesa Pátria que, hoje, está em sua 5ª fase e não tem prazo para terminar. Um dos objetivos é reunir provas para prosseguir com novas ações e novos alvos. O material apreendido ajuda na identificação de participantes nos crimes.

Policiais e influenciadores conhecidos da bolha bolsonarista nas redes sociais estão entre os presos — um deles é Ramiro dos Caminhoneiros, 49, apontado como um dos principais nomes na organização de caravanas para Brasília.

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Em menos de um mês, a PGR (Procuradoria-Geral da República) denunciou 653 pessoas. A maioria dos denunciados são pessoas que participaram de atos de vandalismo para tentar um golpe de Estado ou estavam acampados em frente ao QG do Exército.

Na Polícia Federal, a investigação alcança outras pessoas. Ela foi dividida em quatro núcleos:

Autores intelectuais;

Financiadores;

Omissão de agentes públicos;

Vândalos e executores finais dos crimes.

O Supremo ainda não sabe o que fará com as ações contra acusados de participar de atos golpistas e das invasões às sedes dos Três Poderes.

O temor é que o grande volume de casos trave o STF — o julgamento do Mensalão, por exemplo, levou quatro meses para ser concluído. Depois, um ano e meio para que todos os recursos fossem avaliados, e o processo, encerrado.

Entre as opções para desafogar o Supremo estaria formar uma força-tarefa com servidores de outros tribunais, para auxiliarem os gabinetes nos julgamentos, ou enviar os casos para a primeira instância —opção defendida por advogados dos presos.

Neste cenário, porém, a medida abre riscos de decisões divergentes entre juízes para as mesmas acusações.

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Foto: José Cruz/Agência Brasil