IrmĂ£ de miliciano acusa Planalto de oferecer cargos pela morte de ex-PM

Procurados, o PalĂ¡cio do Planalto e a defesa de Daniela nĂ£o se posicionaram sobre o conteĂºdo das escutas

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Publicado em: 06/04/2022 Ă s 16:24 | Atualizado em: 06/04/2022 Ă s 16:24

Uma escuta telefĂ´nica feita pela PolĂ­cia Civil do Rio de Janeiro, hĂ¡ dois anos, mostra uma irmĂ£ do ex-policial militar Adriano MagalhĂ£es da NĂ³brega acusando o PalĂ¡cio do Planalto de oferecer cargos comissionados em troca da morte do ex-capitĂ£o.

Na gravaĂ§Ă£o, Daniela MagalhĂ£es da NĂ³brega afirma a uma tia, dois dias apĂ³s a morte do irmĂ£o numa operaĂ§Ă£o policial na Bahia, que ele soube de uma reuniĂ£o envolvendo seu nome no palĂ¡cio e do desejo de que se tornasse um “arquivo morto”.

“Ele jĂ¡ sabia da ordem que saiu para que ele fosse um arquivo morto. Ele jĂ¡ era um arquivo morto. JĂ¡ tinham dado cargos comissionados no Planalto pela vida dele, jĂ¡. Fizeram uma reuniĂ£o com o nome do Adriano no Planalto. Entendeu, tia? Ele jĂ¡ sabia disso, jĂ¡. Foi um complĂ´ mesmo”, disse a irmĂ£ na gravaĂ§Ă£o autorizada pela Justiça.

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Procurados, o PalĂ¡cio do Planalto e a defesa de Daniela nĂ£o se posicionaram sobre o conteĂºdo das escutas.

Adriano foi morto em 9 de fevereiro de 2020 apĂ³s mais de um ano foragido sob acusaĂ§Ă£o de comandar a maior milĂ­cia do Rio de Janeiro. Ele tambĂ©m era suspeito de envolvimento no esquema da “rachadinha” no antigo gabinete do senador FlĂ¡vio Bolsonaro (PL-RJ) na Assembleia Legislativa fluminense.

A gravaĂ§Ă£o faz parte das escutas realizadas pela polĂ­cia no Ă¢mbito da OperaĂ§Ă£o GĂ¡rgula, Ă s quais a Folha teve acesso, que miraram o esquema de lavagem de dinheiro e a estrutura de fuga de Adriano.

Por mais de um ano a polĂ­cia ouviu conversas de familiares, amigos e comparsas do ex-PM. Daniela nĂ£o Ă© acusada de envolvimento nos crimes do irmĂ£o.

A fala sobre o Planalto foi feita em conversa com uma tia dois dias depois da morte de Adriano, num suposto confronto com policiais militares no interior da Bahia. Desde aquele dia a famĂ­lia suspeita de uma execuĂ§Ă£o para “queima de arquivo”, o que atĂ© o momento nĂ£o foi comprovado.

“Ele falou para mim que nĂ£o ia se entregar porque iam matar ele lĂ¡ dentro. Iam matar ele lĂ¡ dentro. Ele jĂ¡ estava pensando em se entregar. Quando pegaram ele, tia, ele desistiu da vida”, disse Daniela.

Minutos depois, a mesma tia, cujo nome nĂ£o foi identificado, comenta com outra irmĂ£ do ex-PM, Tatiana: “Daniela sabe de muita coisa, hein?”

As suspeitas sobre as circunstĂ¢ncias da morte de Adriano foram levantadas pelo prĂ³prio presidente Jair Bolsonaro, dias apĂ³s a ocorrĂªncia na Bahia. Ele e FlĂ¡vio defenderam uma perĂ­cia independente para analisar o caso.

A atuaĂ§Ă£o do presidente na ocasiĂ£o foi alvo de elogio de Tatiana em outra conversa.

“Ele foi nos jornais e colocou a cara. Ele falou: ‘Eu estou tomando as devidas providĂªncias para que seja feita uma nova perĂ­cia no corpo do Adriano’. Porque ele sĂ³ se dirige a ele como Adriano, capitĂ£o Adriano.”

Ela, por sua vez, sugere na fala que a ordem para matar o irmĂ£o foi do ex-governador Wilson Witzel. “Foi esse safado do Witzel, que disse que se pegasse era para matar. Foi ele.”

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