A queda na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva acendeu um alerta no Palácio do Planalto e desencadeou uma estratégia agressiva para recuperar terreno político. Após um período de foco em agendas internacionais e afastamento forçado por questões de saúde, Lula inicia uma série de viagens pelo Brasil, acompanhado por ministros e pela primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja. O objetivo é claro: reverter a desaprovação crescente e fortalecer sua posição para as eleições de 2026.
Crise política e perda de apoio
As pesquisas recentes apontam um cenário preocupante para o governo. O levantamento da Genial/Quaest revelou que 49% dos eleitores não votariam em Lula de jeito nenhum, um índice que supera sua aprovação (47%).
Esse desgaste tem sido notado especialmente no Nordeste, reduto histórico do PT, onde a base eleitoral tem demonstrado sinais de enfraquecimento.
O presidente e sua equipe reconhecem que a campanha pela reeleição já começou e, por isso, decidiram investir na comunicação direta com a população.
O retorno às ruas e a divisão de tarefas
A estratégia adotada por Lula inclui não apenas a intensificação das viagens, mas também a redistribuição de protagonismo entre os aliados. O vice-presidente Geraldo Alckmin deve assumir a missão de impulsionar a Nova Indústria Brasil, um dos poucos programas elogiados por setores produtivos, enquanto Janja reforça o apelo popular do governo ao lado de ministros responsáveis por políticas sociais.
Nesta quinta-feira (6/2), Lula estará no Rio de Janeiro para reabrir a emergência do Hospital Federal de Bonsucesso, um evento que busca reforçar sua gestão na área da saúde. Na sexta-feira (7), desembarca na Bahia para anunciar medidas de segurança hídrica, um aceno claro ao eleitorado nordestino. Outras viagens já estão previstas para Belém (PA), Macapá (AP) e Rio Grande (RS), sempre com anúncios voltados para infraestrutura, habitação e desenvolvimento social.
A batalha pela narrativa
O discurso adotado por Lula e sua equipe é o de que o governo tem entregas concretas, mas que precisa melhorar a comunicação para enfrentar os ataques da oposição.
A aposta no contato direto com a população reflete essa percepção, mas também revela um problema estrutural: muitas das promessas feitas durante a campanha ainda não saíram do papel.
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O próprio presidente reconheceu, em reunião ministerial, que o governo deve “cumprir o que prometeu”.
No entanto, a estratégia de intensificar viagens e eventos públicos não é garantia de recuperação da popularidade.
O desafio de Lula vai além da comunicação – passa pela necessidade de entregar resultados reais, especialmente em áreas como saúde, infraestrutura e programas sociais.
O risco é que a movimentação seja interpretada apenas como um esforço eleitoral antecipado, sem impacto prático na vida dos brasileiros.
A agenda cheia pode ajudar a manter o presidente no centro das atenções, mas a verdadeira recuperação política dependerá do que, de fato, será entregue à população nos próximos meses.
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Foto: Ricardo Stuckert / PR