Maia admite culpa na farra de gastos de deputados pelo mundo

O aumento exagerado dos parlamentares ocorre em meio a um cenário de austeridade pregada na administração público.

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Aguinaldo Rodrigues

Publicado em: 29/01/2020 às 16:08 | Atualizado em: 29/01/2020 às 16:08

Reportagem da Folha de S. Paulo, desta semana, mostrou a farra que parlamentares da Câmara fizeram com o dinheiro do contribuinte. Gastaram, em 2019, mais do que nos últimos sete anos em viagens pelo mundo. Foram 30% a mais na gestão de Rodrigo Maia (DEM-RJ).  

O presidente da Câmara reconhece os exageros, diz que têm culpa e promete corrigir os excessos. “A política se enganou nos últimos anos, e eu fiz parte disso. Está na hora de a gente cobrar eficiência”, afirmou Maia (foto). 

A Folha conseguiu os dados por meio da Lei de Acesso à Informação. 

O aumento exagerado dos deputados ocorre em meio a um cenário de austeridade pregada na administração pública, com cortes de verba em diversos ministérios, por exemplo. 

Quase metade dos deputados foram autorizados a viajar para mais de 70 países em cinco continentes, incluindo capitais turísticas. Foram 105 cidades pelo mundo, conta a reportagem. 

Nova York, com 65 viagens, foi o destino preferidos dos deputados, seguida de Montevidéu (39), Roma (34) e Lisboa (30).  

A preferência pela metrópole americana lidera as viagens desde 2012. 

Ao todo, foram gastos R$ 7,1 milhões, ante os R$ 5,3 milhões no ano anterior.  

O valor é superior aos R$ 5,5 milhões gastos em média desde 2012. 

As viagens têm de ser autorizadas pela Mesa Diretora, que cobra do congressista uma justificava para a despesa. 

 

Maior gastador 

O deputado que mais viajou foi o presidente da Comissão de Turismo, Newton Cardoso Jr. (MDB-MG). Em menos de um ano, ele participou de 14 missões oficiais a um custo de R$ 179,2 mil, dos quais R$ 90 mil só com a compra de passagens aéreas. 

Em quatro voos, o congressista pediu upgrade da poltrona para a classe executiva. 

Segundo o regimento interno da Câmara, têm esse direito ocupantes de outros cargos, como membros titulares da Mesa Diretora e presidentes de comissões permanentes. 

 

 

Newton Cardoso Jr (foto). é também o responsável pela passagem mais cara em 2019. 

A Câmara pagou R$ 46,2 mil em um voo de classe executiva para o deputado acompanhar o Fórum de Economia do Turismo Global, realizado em Macau, na China, em outubro. 

O custo médio de uma passagem para a cidade chinesa é de R$ 21,5 mil, de acordo com gráfico de preços do Google Flights. 

  

Vaticano 

canonização de Irmã Dulce, em outubro, foi o evento que mais mobilizou deputados em uma única missão.  

Ao todo, 37 parlamentares viajaram à capital italiana, sendo 25 bancados pela Casa. As passagens custaram de R$ 6.000 a R$ 30 mil.  

Sete pediram upgrade à classe executiva para a cerimônia de santificação da freira baiana conhecida como Santa Dulce dos Pobres, por dedicar a vida a combater a pobreza e a desigualdade social.  

Na lista estão bilhetes emitidos em nome do deputado José Rocha (PL-BA) e da deputada Soraya Santos (PL-RJ), que custaram cerca de R$ 30 mil cada um. 

 

Mea cupa de Maia 

Procurado pela Folha, o presidente da Câmara disse que busca reduzir essas despesas.  

“Aconteceu um aumento enorme do preço das passagens, incluindo aí a crise da Avianca, somado a isso o sistema das companhias aéreas tem uma política de ter um custo baixo para bilhete de turismo, o que acaba encarecendo o custo para aqueles que compraram com pouca antecedência”, disse Maia.  

“No final do ano, conseguimos terminar uma licitação com as companhias aéreas, o que vai reduzir o custo de compra e mudança de data de voo”, afirmou. 

Em agosto, para uma plateia composta por empresários e lideranças locais em Santa Catarina, Maia defendeu que os políticos façam uma autocrítica e mostrem produtividade.  

“Está na hora de a gente cobrar eficiência. Estou na política para isso. Se não for isso que a sociedade quer, eu prefiro voltar então para a iniciativa privada”, disse. 

“Precisamos ter a coragem de dizer: esse Estado do tamanho que ficou não nos representa. A política se enganou nos últimos anos, e eu fiz parte disso”, afirmou. 

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Fotos: Câmara dos Deputados